Vida e morte inexoráveis

Pós-feriado, mais um, esperando que seja dos últimos de natureza híbrida, vivido ainda sob a égide das restrições da pandemia. O mês inicia com dias de lembranças ao mortos e o significado mais que especial pelas mais de 600 mil vidas ceifadas pela covid-19. O período na verdade começa com o último dia de outubro, dedicado ao Saci aqui e a outras comemorações alhures, as quais foram sorrateiramente importadas para esta colônia sem qualquer restrição. Depois, seguimos com o Dia de Todos os Santos, para lembrar também os 99 anos da morte de Lima Barreto. Sim, o aclamado escritor a quem sempre presto minhas reverências será objeto de centenário ano que vem, junto a tantas outras efemérides. Neste 3 de novembro seria o 98o aniversário de Nelson Pesciotta, grande mestre, fundador da Academia de Letras de Lorena e seu primeiro presidente, dentre tantas outras atividades culturais e políticas. A ele o José Antonio Bittencourt Ferraz em seu Blog Escritores Valeparaibanos presta as devidas homenagens (http://escritoresvaleparaibanos.blogspot.com/2021/11/nelson-pesciotta.html).
 
Tais lembranças não podem ser confundidas com a assombração por fantasmas. Aliás, quando o luto for transformado em saudade, é muito saudável dizer, cantar e falar dos que morreram. Creio que todas as culturas possuem alguma forma de cerimônia a seus mortos, quer seja mais festiva ou mais introspectiva. O caráter religioso está presente por vezes, além do respeito aos que viveram e morreram antes de nós. Ficando no âmbito do foro íntimo, não há nada de mau em relacionar a morte a uma passagem. Por mais inexplicável que seja, ajuda no conforto dos que sabem que vão morrer. Outro dia me informaram que um conhecido já não estava mais entre nós. Como ele vivia em um retiro, uma comunidade segregada, levou um bom tempo até descobrir que ele tinha morrido e não saído de tal grupo. No afã de eufemismos, acabamos por sacrificar a clareza das palavras. Partir e deixar não significam morrer e falecer, mas não vou criar mais uma polêmica, apesar de não fugir delas quando necessário. A morte é parte inexorável da vida e, literalmente, ponto final.

Morre-se, e muito, de morte matada. As da covid-19, bem o sabemos pelo que a CPI da pandemia no Senado Federal apurou, foram criminosas em boa parte. Inicia-se a etapa de convencimento a favor e contra para que justiça seja feita. Os detratores da transparência dizem que é apenas uma narrativa sem fundamento, o que comprovadamente não é. Nessa seara, até crimes comuns passaram a ser rotulados como de opinião, uma vergonha para quem os defende, uma angústia a mais para quem verdadeiramente lutou pela liberdade de expressão no país. Na matemática, as inversões existem para facilitar a solução de uma equação. No caso dos mentirosos criminosos, inverte-se a lógica da verdade para benefícios próprios e uma usurpação sem igual nos pilares da República acontece. Novamente afirmo que, quando pegos no flagrante da mentira, nunca se dignam a reconhecer o erro e enviar as mensagens de desculpas na mesma intensidade e proporção com que espalharam as fake news. Petulância combinada com má fé.

Comentários

  1. Dr. Adilson, efusivos cumprimentos pelo nível dos comentários e aqui disponilizados nesta trincheira cultural. Com marcante senso de oportunidade os temas abordados levam os leitores a refletir.

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    1. Obrigado, Alcides Acosta, pelas palavras elogiosas e estimulantes. Veja que deixei de mencionar o CCLA nas comemorações do dia 31 de outubro porque já fora contemplado pela carta minha que o Correio Popular publicou. Abraços!

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  2. Adilson, parabéns! Ótimas reflexões.

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  3. Lidar com a morte é tarefa comum a toda gente, para que a vida possa fluir saudável. De certo modo, a morte nos irmana. Importa não negar a primeira, para poder afirmar a segunda. Verbalizar cura!

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