Incertezas científicas

Tudo está à distância de um apertar de botões. Na verdade, do toque na tela. Onde ficou o prazer da descoberta? Trinta anos atrás, quando saí do Brasil pela primeira vez para ficar dois anos na Alemanha fazendo parte de meu doutorado, quase nada sabia do local onde moraria, qual a aparência e a dinâmica das coisas. Hoje já é possível ver os detalhes das ruas por onde andar e a paisagem em várias dimensões e por todos os ângulos. Em breve, poderemos sentir o cheiro e a temperatura dos lugares a serem visitados. O estresse dessas viagens era muito grande, mas temo que a ansiedade dos que trilham tais caminhos hoje não tenha diminuído. Ela foi substituída por um outro tipo de cobrança ou ilusão. Havia planejamento com os projetos de pesquisa que queríamos conduzir. Os obstáculos e adversidades eram tantos que tínhamos de mudar muita coisa. No meu caso, voltei com um tese diferente da que havia planejado. Melhor, creio eu, que resultou em publicações posteriores. Sublinho o posteriores porque hoje, como parte do planejamento, já vem definida a quantidade de artigos científicos a serem publicados. Exigência dos fomentadores, dos orientadores, dos programas de pós-graduação, das universidades, da carreira enfim. O incerto é para ser cada vez mais certo e pesquisa científica não é isso. Sem a dose de dúvida não se cresce no aprendizado. #IniCiencias

Pouco se falava em divulgação científica, tal como sobre a importância de falar para a sociedade aquilo que se produzia dentro das universidades públicas, excelência por definição. Seria inacreditável que colocariam essa qualidade em dúvida por meio de muitas mentiras ditas e repetidas. O necessário jornalismo de qualidade se vê e dele se sente falta quando surge com ênfase o jornalismo ruim. Emissoras de tv surgem, atreladas a marcas que foram vanguarda um dia, e hoje se prestam a serem porta-voz oficial de um governo negacionista. Como podem vender a ética profissional por tão pouco! De minha parte, tenho feito algum crítica à imprensa de forma geral que, paradoxalmente, saiu em veículo de comunicação digital (https://www.brasil247.com/blog/dificeis-escolhas-jornalisticas). Mas este site tem forte viés político, dirão os críticos. Sim, responderei, pois é no rótulo de independente que se escondem os piores veículos ideológicos. Na coluna da semana no Jornal Cidade de Rio Claro pude discorrer sobre a situação da ciência como um todo no Brasil, cuja reprodução está no facebook (https://www.facebook.com/adilson.goncalves.9847/).

O método científico é bem definido e é muito longe de especulações e crendices que proliferam nas redes (anti)sociais e grupos de mensagens. Uma equipe de jornalistas científicos fez um trabalho meticuloso para entender tal linguagem que possa ser apresentada para todas as pessoas sem usar jargões próprios e mantendo a precisão dos fatos narrados. Por meio do Instituto Serrapilheira recebi o link para uma versão em português de tal obra que compartilho aqui, recomendando sobremaneira a leitura: https://journalismcourses.org/wp-content/uploads/2021/11/ksj-handbook-v1.6-pt.pdf. Em tempos de negacionismo oficial é importante que todos, independende de ter ou não a notícia como material de trabalho, entendam o que está por trás de tanta asneira dita e publicada.

Comentários

  1. A tecnologia nos aproxima e também nos afasta da verdade. Seus textos idôneos são ótima fonte de referência.
    Abraços. Magda Helena.

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  2. Muito bom o seu artigo, porém, jornalismo ruim e direcionamento político na mídia, estamos fartos de ver.
    Também a Ciência, negacionista de Deus, se encontra hoje em um paradigma que balança, com os avanços da física quântica, onde provou-se que o observador interfere no comportamento da onda. A ciência chegou em Deus e nega esta evidência. A consciência é o início e não a partícula. O paradigma muda com as novas descoberta, embora já foram feitas no início do século passado.

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