Nobre semana

Meus amigos catalíticos ficaram contentes, pois a área foi novamente contemplada no Prêmio Nobel de Química deste ano, divulgado hoje, mas em abordagem totalmente nova. O alemão Benjamin List e o britânico naturalizado norte-americano David W.C. MacMillan foram laureados pelo desenvolvimento da organocatálise assimétrica, ou seja, uso de pequenas moléculas na síntese de outras mais complexas, especialmente aplicadas em fármacos. Uma matéria detalhada, ainda que não científica, pode ser lida neste site (https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/10/06/nobel-de-quimica-2021-vai-para-benjamin-list-e-david-wc-macmillan.ghtml). Os prêmios de Física e Medicina foram os primeiros na semana. Em anos anteriores havia especulação sobre as possibilidades de quais áreas seriam premiadas e numa delas até me senti lisonjeado porque um ramo cogitado era a disciplina que criei para o curso de Engenharia Bioquímica na USP, sob forte crítica: Química Bioinorgânica. O nome parece estranho, mas combina a natureza biológica de ligantes inorgânicos. Era pura especulação, não sabemos quais são os indicados em cada ano. O sigilo é de 50 anos e a Fundação Nobel tem seus motivos para isso. Diferente de órgãos brasileiros e suas decisões recentes para manter segredos que, no fundo, são medidas para ocultar a corrupção em curso. #IniCiencias

A semana foi também pontuada pela divulgação de mais um ranking de pesquisadores e sua produção científica. Tal como todas, é uma classificação questionada por fazer apenas um recorte dentro de critérios nem sempre comparáveis entre áreas de pesquisa ou mesmo países e regiões. A cientometria se transforma em um ramo de investigação dentro da própria ciência, ou seja, saber o quanto e o que é produzido de conhecimento. A controvérsia é antiga. Em 1995 o jornal Folha de S. Paulo publicou a lista dos 170 mais produtivos pesquisadores brasileiros (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/ranking/pag2d.htm), no que foi ironizada pelo número não redondo e também porque diziam nossas más línguas que era para chegar até um certo nome aparecer na lista. Anos antes, a USP havia publicado uma lista de improdutivos, muito mais polêmica, como se pode imaginar. Em muitas áreas do saber faz pouco sentido verificar quem é mais ou quem é menos, artes ou ciências, ainda que sejam necessárias respostas à sociedade, a que paga pela maioria das atividades desses profissionais. Os especialistas na cientometria se apoiam no pressuposto de que a ausência de avaliação é pior do que uma avaliação ruim.

Os cinco primeiros laureados com o Nobel deste ano (dois em Medicina/Fisiologia e três em Física) foram resenhados em nosso Boletim Anti-Covid da Unesp Rio Claro e podem ser lidos na edição mais recente (https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/) e também, no caso do prêmio da Medicina/Fisiologia, em nosso blog em abordagem minha, juntando com uma experiência 'ardorosa' em Lorena (https://bacunesprc.blogspot.com/2021/10/sensacoes-de-um-premio-nobel.html). A semana continuará com as divulgações até chegar na sexta com o da Paz, sob forte expectativa política envolvida. Na semana que vem será a vez do de Economia, não canônico, pois não é exatamente um Nobel por não ter sido previsto por Alfred em seu testamento. Até agora, somente homens na lista. Coço o dedo para retardar a publicação do blog e incluir o resultado do Prêmio Nobel de Literatura que sairá nesta quinta-feira, mas, em respeito às cinco dezenas de leitores, manterei o prazo desta vez.