Dizer a educação e a saudade

Anteontem foi o dia das crianças e proliferaram as postagens nas redes (anti)sociais com fotos de quando se tinha muitos ou alguns anos a menos para representar aquela idade infantil, provavelemente mais doce e sem culpas.  Felicitemos as crianças, especialmente as que resistem e vivem dentro de nós. O Dia dos Professores é outra das efemérides para se refletir e pouco a comemorar. São inúmeros os eventos acontecendo este mês que discutem a situação educacional no país, especialmente agora com a pandemia e planos de retomada de atividades presenciais. Com o fim de uma política educacional que construa um futuro para todos, passa a ser questão de sobrevivência a todo educador defender o que ainda resta de possibilidades para educarmos pessoas. Em particular, o centenário de Paulo Freire dá um verniz especial à data. Escrevi uma crônica meia década atrás publicada na VII Coletânea da Academia de Letras de Lorena (2016, p. 87) com o título "A criança, o professor e o médico", ali dizendo sobre a proximidade no calendário dos dias desses três: a criança, o médico e o professor.

Por coincidência, ou melhor, por contradição, a semana começou com entrevista de Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, ao programa Roda Viva. Ela mostrou um país às 'gil' maravilhas pelas respostas que deu nas questões de acesso à justiça ou mesmo do funcionamento dessa parte do poder. A questão de carreira e salários de juízes e anexos é apresentada como se todos os que trabalham no setor público partilhassem da mesma situação. Confundem-se de forma proposital servidores públicos com usurpadores do Estado para benesses próprias, que há em todas as esferas e níveis, que fique bem claro. Quem ali vive sabe muito bem as diferenças, difíceis de explicar para a população, ainda mais quando a política oficial é de desmontar o estado justamente para retirar os mecanismos que tornam o convívio social mais humano e menos desigual. Parcela significativa dos professores - os da escola pública - está nesse grupo, lembremos. Afinal de contas, as galinhas escolheram a raposa para tomar conta delas porque era terrivelmente mamífero.

Ainda que havia tempo livre, a liberdade era para escrever, não para outras realizações, admito minha culpa e os acúmulos que me rondam. Parece que a publicação do blog atrasou apenas para participar a morte do Acadêmico Pedro Alberto de Oliveira, poeta ocupante da cadeira 5 da Academia de Letras de Lorena, cujo patrono é o padre Carlos Leôncio da Silva. Há muito tempo a visão lhe abandonara, mas era a memória das efemérides da Academia e todo mês dizia de cor, com a leitura de memória, os aniversários dos acadêmicos e também lia mentalmente seus poemas. Quando ainda conseguia se locomover para as reuniões presenciais, disse-me que teria um presente. Primeiro sondou sobre minhas preferências etílicas, respondi não haver muitas. Revelou ter em casa uma garrafa de vodca a mim destinada, com uma exaltação juvenil. Infelizmente, o tempo e a distância não permitiram degustar o regalo. A Academia terá reunião virtual neste sábado, 16 de outubro, na qual não faltarão as devidas homenagens ao Pedro.

Comentários

  1. Reflexão profunda sobre a educação em nosso país. Infelizmente, nós professores não temos muito a comemorar. A desvalorização da carreira não incentiva os jovens a procurarem as licenciaturas.
    Meus sentimentos pela perda do colega Acadêmico.

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  2. Assim como os professores, os médicos não têm muito a comemorar, num país que despreza igualmente a Educação, a Ciência e a Saúde. Afinal, o povo é, como sempre foi, apenas um detalhe.

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  3. Aproveito para também homenagear os professores:
    Professor,hoje é seu dia!
    Aplauso à dedicação!
    Sua cultura nos guia,
    nossa eterna gratidão.
    Magda Helena

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  4. Parabéns, querido Acadêmico! Sempre atualizado com nosso mundo de cabeça para baixo!

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  5. Vai-se um poeta com alma de criança. Um brinde ao Pedro.

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