Mentira dupla

A mentira no Brasil é tão grande que são necessários dois dias consecutivos para dela se lembrar. Os comentários para os jornalões sobre a efeméride foram infrutíferos, preteridos; seguem aqui, portanto. Na mesma semana, o humor negro da troca de seis por meia dúzia nos altos escalões palacianos não esconde as múltiplas tragédias em que vivemos - e morremos - simultaneamente. Escrevi sobre as verdadeiras diretrizes médicas no combate às doenças e os limites impostos pela ética médica, artigo elogiado por quem é da área de atendimento à população, mas de conteúdo ignorado por quem mais precisa. Saiu em nosso Boletim Anti-Covid e também no blog a ele relacionado (https://bacunesprc.blogspot.com/2021/03/limites-da-autonomia-do-medico-e-do.html). Há muito que a ciência desconhece na dinâmica e no combate à covid-19, mas agir com base na ignorância, virando as costas ao conhecimento que foi construído, é despir-se da nossa condição humana mais fundamental: a solidariedade, especialmente com quem está na linha de frente nos atendimentos hospitalares, desenvolvendo e aplicando vacinas, bem como os que, responsavelmente, estão gerindo esta crise única em nossa história recente. #IniCiencias

A origem do Primeiro de Abril parece estar relacionada com a mudança do calendário gregoriano, não aceita pelos franceses que continuaram a comemorar o início do ano nesse dia e não na nova data de primeiro de janeiro. Mas é difícil estabelecer fatos pretéritos com precisão. Deleitemo-nos, então, com as histórias e estórias que são contadas, aproveitando aqui para duas polêmicas. Uma é a própria manutenção do termo estória, que foi resgatado recentemente por Sérgio Castanho em saborosa crônica para o Correio Popular, de Campinas (https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/01/colunistas/sergio_castanho/1048864-historia-estoria-causo.html). A outra foi por uma recomendação aleatória, como rotulam os jovens, do grupo de trovadores para uma leitura de Clarice Lispector feita por Maria Bethânia (https://www.youtube.com/watch?v=eK4sWMQhUhQ). Banhos de mar é esse crônica. Mas o químico aqui não consegue ouvi-la sem se sobressaltar com o inexistente sal marítimo iodado, mencionado duas vezes. Não, não percamos a poesia, por favor! Ilusões não são mentiras.

Contardo Calligaris morreu ontem, 30 de março, dia em que meu pai faria 79 anos, morto há quatro. Faleceu também Paulo Neme, médico e ex-prefeito de Lorena. No primeiro mandato dele foi reconstituído o Conselho Municipal de Meio Ambiente do qual fui presidente por dois mandatos consecutivos, com ações que agregaram parte significativa dos ambientalistas de lá. Outros tempos, outras vidas, mas sempre as mesmas lamentáveis mortes. João, meu pai, e Calligaris foram levados pelo câncer; Paulo Neme foi mais uma vítima da covid-19, em cidade que também fecha os olhos para a necessária consciência individual que resulte em proteção coletiva. No império das mentiras, as vidas que se perdem não nos permitem a utopia de um mundo inexistente, vendido - e comprado aos que parlam - por um alto preço. Nos meus registros, o colunista e psicólogo Contardo Calligaris aparece apenas uma vez, citado em artigo compilado para o Brasil 247, fruto de carta enviada e não publicada (https://www.brasil247.com/blog/tragicomica-ignorancia). Já nos arquivos em papel, separei várias de suas colunas que, de alguma forma, me chamaram a atenção e integraram meu colecionismo celulósico volumoso.

Comentários

  1. Meus sentimentos pelas suas perdas. Diluídas em, ou somadas à, tragédia que vivemos. A dor se mistura com a raiva, para quem não compartilha o perdão cristão.

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  2. Na verdade o mundo esta confuso e a pandemia nos deixando ansiosos

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  3. Parece que a mentira, no nosso país, se institucionalizou!...

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  4. Mentiras, desrespeito, morte....Andam de mãos dadas nesse trágico país em que vivemos.

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  5. Obrigado por me ter adicionado ao blog.

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  6. Você tem toda razão, Adilson. Você expõe de forma clara e objetiva as mentiras que conseguem atingir uma grande parcela da população que acredita nelas. O real propósito dessas mentiras é camuflar a total falta de interesse dos governantes pelo que a pandemia vem causando no país, principalmente para as classes menos privilegiadas.

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  7. Edilson acompanhei os escritos de Contardo e senti muito a sua morte mesmo sem nunca ter falado com ele. Aproveito paea deixar meus sentimentos pela sua perda.

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