Sonhos, pesadelos e suas interpretações

Andar a esmo na rua sem máscara se transformou na nova versão de estar nu em público, imagem recorrente em sonhos. Estava em local movimentado e em desespero por não encontrar minha máscara. No fundo da mochila estava uma azul ciano (que nunca tive), já usada, que imediatamente coloquei, aliviando-me. Creio que, nesse momento, os olhos que dormiam devem ter parado de revirar-se em suas órbitas. Passei a encarar com repulsa e em desafio os demais transeuntes desmascarados. Acordado, assim está o cotidiano, mesmo na bolha geográfica e social em que vivo. Em meados de 2020 era difícil encontrar alguém sem máscara pelas ruas, mesmo estando em caminhada ou a passeio com animais. Hoje, na saída semanal para comprar alimentos, o dispositivo de proteção facial não estava em nenhum dos rostos com que encontrei no caminho. Apenas nos estabelecimentos comerciais o respeito à proteção individual e coletiva imperava. Assimilamos o comportamento no trânsito, quando diminuímos a velocidade apenas nas proximidades dos radares e não para segurança de todos. Colocamos a máscara apenas quando a placa diz que é obrigatório seu uso.

No dia em que haveria um acontecimento protocolar de confirmação do resultado eleitoral, assistimos a uma tentativa de golpe nos Estados Unidos proporcionado pelo próprio presidente daquele país, ainda em exercício. Donald Trump incitou a invasão do Congresso, mentindo o tempo todo, alegando fraudes eleitorais que não foram comprovadas, nem pela dezena de recontagens de votos, muito menos pela recusa de cerca de 50 (!!) processos judiciais que ele tentou levar à frente. A vida não é para amadores. As consequências poderão ser mais nefastas para nós, que seguimos o roteiro da ascensão da extrema direita e da anti-política. Assunto político delicado e importante para o qual tracei algumas reflexões, compiladas a partir de comentários e cartas não publicados: https://www.brasil247.com/blog/derrocada-da-ultradireita. Emblemático que um dos zeros à esquerda tenha sido convidado para visitar a Casa Branca por esses dias. Realidade dura, não é pesadelo do qual se pode acordar incólume.

Ainda que não freudiano, interpretei questões de cinema. Os fragmentos que formaram o texto foram inicialmente escritos há dez meses, compilados há dois e publicados na primeira semana de janeiro no jornal Correio Popular, de Campinas. Inaugurei naquele veículo um espaço destinado aos Acadêmicos, com direito a foto de destaque. O tempo de amadurecimento, porém, não foi suficiente para todas as correções e, assim, dois esses a menos configuraram erros de concordância. Corrigi-os nas imagens que compartilhei pelas redes sociais, mas no site do jornal não tive como fazê-lo. Confiram: https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/01/colunistas/1046076-um-dedinho-de-cinema.html. Continuei a seguir as sugestões da revista CULT para elaborar argumentos mensais sobre temas selecionados. O de dezembro foi renascimento, publicado agora. https://revistacult.uol.com.br/home/feliz-vinte-vinte/. Alguns leram e gostaram, outros silenciaram. O Lugar de Fala é um espaço interessante para esses exercícios da escrita.

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