Local de escuta

Lugar de escuta. Local de leitura. Expressões incorporadas ao vocabulário e às atitudes. A necessidade de saber ouvir para compreender, especialmente as opressões não vividas, é condição fundamental para respeitar o espaço do outro e se fazer parte da solução, não apenas do problema. Prestar mais atenção, reconhecer que, se são dois ouvidos, dois olhos e uma boca, a escuta e a leitura precedem a fala. Os dias se aproximam do 20 de novembro, emblemático pela celebração à consciência que traz e pela necropolítica instaurada que faz da morte de negros, de mulheres e de minorias uma regra. Não apenas a morte física, mas também o apagamento de histórias, de locais de vivência e de suas vozes. Leio e escuto, portanto, uma contribuição mínima, mas não basta.

A escrita antiga em blogs e outros cantos da internet permanece acessível. Ouvi que o byte publicado jamais é perdido e constatei a afirmação pelo uso do site http://web.archive.org/. Ali podem ser introduzidos endereços considerados não mais existentes e verificar o que ainda resta de informação presente. E não é que os blogs apagados pelo UOL estão lá? Fui migrando este espaço de muita escrita (e pouca escuta) conforme os servidores informavam a descontinuidade do serviço e fiz cópias e cópias de tais arquivos, muitos deles já palavras anacrônicas, confesso. Tal constatação me remete à crítica de informação sumarizada e enciclopédica, como a Wikipedia, que se apresenta como livre, abrangente e colaborativa. Na verdade, há forte desatualização das fontes por serem baseada na volatilidade presumida da internet. Sim, podemos buscar aquelas informações, mas não pelo clique direto no link apresentado. E longe de ser livremente colaborativa essa enciclopédia virtual, como já denunciei alhures. Lugares em que a escrita fica, aproximando sua perenidade à dos livros impressos.

Cumprimos parte das obrigações eleitorais, sem que necessariamente os políticos tenham escutado o que o povo disse. Nas Câmaras Municipais a maioria dos eleitos não corresponde à maioria dos votos. Ou seja, somando-se as porcentagens individuais de votos dados aos vereadores e aos seus partidos chega-se em valor abaixo de 50%. Em municípios nos quais não há segundo turno, prefeitos também são eleitos com voto contrário da maioria da população em larga extensão de disputas. Mesmo para o segundo turno, o levantamento que fiz mostra que em onze cidades os dois mais votados também não somam metade dos votos e, novamente, vem a conclusão de que ambos foram preteridos pela população que é chamada às urnas novamente para escolher entre os que não quer. Ao menos em Blumenau e Boa Vista o primeiro colocado já seria considerado eleito se o número de eleitores efetivos fosse considerado, ou seja, descontando a abstenção, essas cidades teriam menos de 200 mil eleitores o que configura a consumação do pleito no primeiro turno. O sistema brasileiro dá, portanto, um pouquinho de contribuição à comparação como o inusitado sistema norte-americano. Muito se tem escrito e comentado de norte a sul dessas Américas sobre as eleições de novembro. Haverá olhos e ouvidos suficientes para a devida leitura e escuta?

Comentários

  1. O exercício da cidadania não é fácil. Era preciso que o país fosse mais civilizado, educado. Mas para se chegar a tanto, é preciso exercitar cidadania...

    ResponderExcluir
  2. Não sabia que municípios podiam não ter segundo turno para prefeito. O que bem poderiam ter é segundo e até terceiro para vereadores, pois a dispersão de votos é grande.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados