Simpatia para a empatia

Conhecer o mar pela primeira vez veio acompanhado de queimaduras de sol e alergia pelo corpo todo, devido ao contato com a areia. Pele muito branca, descuido na exposição, euforia para aproveitar o tempo ao máximo para as brincadeiras na praia e não se conheciam protetores solares, caros que eram. Um preço a se pagar. Outros tempos e vemos que também se vai à praia para pegar Covid-19, num arroubo quase infantil e irresponsável, desprezando toda e qualquer medida de proteção sanitária e sem o mínimo respeito à saúde alheia. Sim, no feriado da Independência, quando os recursos do Brasil são entregues ao capital externo ou ao fogo, quebramos as amarras que nos prendiam ao pequeno bom senso residual e lotamos a orla marítima. Por enquanto, contabilizam-se os números de mortos por afogamento, imediatos que são, e esperamos as duas semanas de incubação e aparecimento dos sintomas do coronavírus para ver em que situação estamos. As imagens refletem a total falta de empatia de um povo já rotulado, ainda que erroneamente, de cordial. Liberdade individual irrestrita não é condizente com vida social harmoniosa, mas, com certeza, ignorante é sempre o outro.

Cobraram-me patriotismo nesse 7 de Setembro, mas não é porque deixei de fazer trovas ou poemas referentes à data que não cumpri minhas obrigações de bom brasileiro. Trabalhei - por meio do já estressante teletrabalho em casa - e prestei muita atenção ao que nosso saudoso estadista disse, ao denunciar a entrega de recursos naturais e perda de nossa soberania. As emissoras de tv não mostraram, apenas a Folha de S. Paulo deu espaço para seus alertas e mensagem de esperança, mantendo o combate ao medo e ao caos administrativo em que fomos lançados. Também acompanhei o Grito dos Excluídos por várias cidades, mostrando que, apesar das barreiras sanitárias a que estamos submetidos, alguma manifestação cívica genuína e com segurança acontece. Sim, recomeçaram as transmissões de campeonatos esportivos agradáveis e terapêuticos e acompanhei boa parte do USOpen de tênis nos Estados Unidos. Mesmo a simpatia de um Djokovic foi destruída ao ser devidamente punido com a desclassificação no torneio por jogar uma bola no rosto de uma juíza. Não está fácil manter-se humano nestes tempos.

Humano, não sei, mas simples e trivial já foi um prato de arroz com feijão. O preço em disparada força uma nova nomenclatura para essa combinação típica de nossa terra, um balanço entre carboidratos e proteína vegetal. Falam em substituir por macarrão, o que pra mim tudo bem, miscigenado com sangue italiano, espanhol, português e, provavelmente, negro e ameríndio que sou (uma dúvida para abordagem alhures). Há opções de marmitas que combinam macarrão com arroz e feijão, um escândalo para puristas europeus, mas saboroso para quem as comeu. A carne, complemento proteico necessário, ou seus substitutos vegetais, aparece exatamente com essa função coadjuvante. A mistura que se coloca na refeição é para atiçar a vontade da chamada comida mais nobre, refletindo as diferenças de acesso ao alimento. O arroz, no entanto, passa a competir com o filé, quem diria! Tudo sem patos ou sapatos.

Comentários

  1. Realmente, o povo brasileiro não costuma aprender com as adversidades. O que se dizia (e ainda se diz) era que a sociedade brasileira sairia diferente desta vida em reclusão; reveria seus conceitos. Qual o quê! A ignorância perdura. Claro que incentivada por um governo irresponsável; mas vai-se na onda.

    Sinceramente, não me interessei em ver a declaração de Sua Insolência. Soube que juntou pessoas, dispensou o uso de máscara e cumprimentou pessoas. Lamentável.

    Quanto ao arroz, adoro o menino. Espero não ter que substituí-lo. Não que não goste de purê de batata ou de mandioquinha; de cuscuz. Arroz é sempre gostoso, mesmo só ele e alguma mistura. Quem gosta mesmo de arroz, come até em torrões frios.

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