Receitas para a clausura

Blogs são eternos? Busco por informações postadas em algum tempo, em algum lugar e a resposta está lá, estagnada, sem saber se a autora ainda existe e persiste em postagens, nas redes sociais, na vida propriamente dita. Digo a autora porque a foto que lá permanece é de uma mulher. Ou assim se parece, com todas as ressalvas que devem ser feitas. O fato é curioso, pois autores de um século atrás que escreviam suas visões de mundo nos jornais impressos são acessíveis pela consulta em hemerotecas, digitais ou não. Aquele autor é vivo e se torna dinâmico por quem o lê, reinterpreta e o traz a lume novamente. Mas aquela autora de blog que postou uma poesia bonita, simples e sentida, não responde mais por seus atos, é fato. Procuro um e-mail, envio mensagem, verifico o pseudônimo em outros sítios. Nada. Mais fácil, portanto, dialogar com Lima Barreto, Machado de Assis e Euclydes da Cunha do que com a Patrix desse blog. Seria Patrícia Raposo? Dúvidas lançadas às nuvens cibernéticas.

Espero não ter deixado escapar laivos de insanidade com a angústia de uma busca vã. Pelo contrário, faz parte dos exercícios mentais de manutenção da serenidade e relaxamento frente a esta estendida quarentena que nos prende em casa. Sim, eu sei que a ciência nos diz que é a única forma garantida de proteção, já que não temos vacinas nem medicamentos seguros, mas haja lives, cursos on-line, livros a serem lidos em pdf, visitas virtuais a museus, encenação e cantoria na telinha do computador. Distrações são muitas e foi o tema do dossiê deste mês da revista eletrônica de divulgação científica ComCiência, editada pelo Labjor da Unicamp. Eu já havia dado o link para a edição, mas repito aqui o específico para a reportagem que elaborei sobre alimentação artesanal nesses tempos de pandemia: http://www.comciencia.br/comida-e-cultura-cresce-o-resgate-de-praticas-alimentares-durante-a-pandemia/ . #IniCiencias

Citada acima, incomoda que a hemeroteca da Biblioteca Nacional esteja no mesmo barco furado que outros repositórios de nossa história cultural, como a Casa Ruy Barbosa, o IPHAN, Fundação Palmares e por aí vai. Ao longo do tempo, houve um lento processo de resgate e estabelecimento de espaços de preservação e, mais importante, de discussão e reflexão de nossa história e herança cultural. Sim, cultura deve ser cultivada, com o quase pleonasmo. Ela alimenta e retroalimenta a sociedade, com todas as preposições possíveis para os múltiplos significados da frase. Deixamos de ser civilizados quando matamos nossa cultura. Não apenas incêndios físicos acabam com Museu Nacional, Museu da Língua Portuguesa e ameaçam a Cinemateca e outros depósitos de nosso acervo material de objetos da arte e da história. Ex-integrantes do extinto Ministério da Cultura escreveram artigo na Folha de S. Paulo neste 15 de julho com denúncias sobre o descaso e desmonte dessas instituições, patrimônio de todos nós, mas ouvidos moucos pouco se interessarão. A única literatura oficial no momento são os contos da Carochinha.

Comentários

  1. O blogueiro está se avizinhando da melancolia. A pandemia maltrata. Impossível não ver o descalabro, em torno. Mantenhamos a saúde mental, lendo, escrevendo e pensando. Exercício de lucidez. E talvez algum amigo para uns minutos de conversa inteligente, de vez em quando. Pelo skype...

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