Já não sei se sei

Com pouco mais de seis anos adentrei a escola primária semi-alfabetizado devido às vizinhas mais velhas com as quais brincava de escolinha. Foram as professoras Maria Luísa Montemorro Garcia e Edaliza (o sobrenome me fugiu há tempos) que completaram magistralmente o serviço. Sim, sob a batuta da cartilha 'Caminho Suave'. Os quatro anos seguintes, sempre na escola pública, abrigaram uma maior diversidade de educadores. Mas, imagina se os professores Lademir e Joaquim de matemática permitiriam erros grosseiros de aritmética, quer seja no cômputo de objetos, quer seja no número de mortos? Os Estudos Sociais, ainda que sob a égide da ditadura militar, permitiam aprender História e Geografia por meio das mãos e das palavras da Dona Raquel Leite e não havia desculpas para não saber o regime de chuvas das regiões Norte e Nordeste, muito menos não distinguir as estações do ano em relação ao que acontece no hemisfério Norte! E, claro, como já o fiz em outras vezes, preciso dizer que a Dona Zuleika de Ciências não foi a principal responsável pela minha inserção na Química, mas, sim, o severo professor Modesto Vazques, de Língua Portuguesa, que também lecionava no colégio técnico, que cursei posteriormente.

O saber possui múltiplas faces, fáceis ou difíceis, tornando-se cada vez mais válido o ditado de que quanto mais se estuda, mais se sabe o pouco que se sabe. Como cientista, a própria natureza do conhecimento científico não é de pronto entendimento para todos nós, como pode ser visto em livro publicado há alguns anos sobre esse assunto e que eu tive a oportunidade de resenhar para a revista eletrônica de divulgação científica ComCiência, que foi ao ar hoje (http://www.comciencia.br/livro-the-nature-of-scientific-knowledge-kevin-mccain-traz-os-conceitos-fundamentais-da-raiz-do-conhecimento-cientifico/). Em contraponto a esses onipresentes obstáculos, como homenagem aos que me educaram e me incentivaram a também ser cientista e professor, fica a frase da música "Filosofia pura": quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou.

Passamos dos 80 dias da dupla quarentena, se levar ao pé da letra o significado da palavra. Cada dia tem sido contado de forma distinta, com todas as dores&amores que significam. O rompimento do equilíbrio entre o tempo de convivência, o tempo de atividades e aquele tempo só nosso, individual, é o principal fator de angústias e da ansiedade de sair do necessário isolamento social. Continuemos em casa, pois. Dentre outras coisas, descubro-me leitor de poesias em podcast (https://anchor.fm/quarentenapoetica/episodes/Episdio-37---Leitura-de-Adilson-Gonalves-edr5ea), além da escrita avançando por espaços nunca antes navegados. A centésima postagem deste blog neste endereço coincide com os três anos da morte de meu pai.

Comentários

  1. Os primeiros professores ficam indeléveis na nossa memória. Viram pura poesia, de fato.

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    1. De fato, consegui visitar minha 2a professora (ano 1955), 50 anos depois. E filma-la e deixa-la registrada no YouTube. Mulher de raça indígena. E saber algo a respeito do ensino na época do peronismo na Argentina, que não sabia.

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  2. Adilson, gostei do exemplo
    dos fenômenos explicação, previsão e controle. Bem prático para assimilação.

    E grato por divulgar o podcast. Provavelmente, me arriscarei a declarar umas poesias minhas.

    Abraço

    Rinaldo Saracco

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  3. Uma bela homenagem aos mestres, para os quais seguramente, um ex-aluno deste naipe é puro motivo de orgulho!!!!

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  4. E pensar que nestes tempos de pandemia, a maior parte das crianças é forçada a ter aulas online, se tiver o equipamento necessário, é claro. Se não, fica vendo o tempo passar, espremido num quartinho com mais 4 ou cinco irmãos, numa comunidade qualquer.

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  5. Quantas lembranças da professora Rosalina, dando aula em uma classe multisseriada e com as aulas no interior da capela São Luiz, No Interior do município da Lajeado RS. Tudo começou bem, com a cartilha Caminho Suave, com meio ano de aula já estava ajudando os colegas a identificar as letras e sílabas, lendo. Depois um acidente. mudança e tudo foi ficando mais difícil, truncado. Professora Rosalina, você foi minha inesquecível mestra. Saudade

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