Algumas dúvidas e lamúrias

Foi chamada de Pretinha a cachorra adotada em Campinas e levada para ser companheira de meus sogros em São Paulo, décadas atrás. Condicionada pelo nome, ao tocar Moraes Moreira ela se reconhecia e abanava seu rabo de vira-lata. Pretinha morreu há muito tempo: depois da morte dos sogros, restou ser cuidada pelo cunhado. O músico faleceu esta semana e sinto o peso de minha geração que vai vendo e sentindo todas suas referências culturais morrer. Hoje perdemos Rubem Fonseca, escritor que trouxe inovações literárias ao conto e ao romance. Ao menos as obras desses artistas do som e da palavra ficam, mas em tempos de pandemia há forte dúvida sobre o que significará consumir cultura. Teremos novos Theodor Adorno e Max Horkheimer para definir o que será a indústria cultural pós-pandêmica?

Um feriado passou e outro se aproxima. A vontade de atividades fora de casa aumenta, não há dúvida, mas impera a razão da informação científica de que estas são semanas cruciais para diminuir o espalhamento do vírus e desafogar, lá na frente, o impacto no uso de equipamentos mais específicos e vitais para os que estiverem em condições mais críticas de saúde. Nesses feriados não convencionais, consegui falar com vários parentes por vídeo-conferência e descobrimos ainda mais a necessidade de um abraço. Gostaria que a experiência necessária de isolamento social de agora nos trouxesse um melhor entendimento da humanidade que nos move. Porém, olhando para passados não muito remotos, de outras crises e guerras, resta a impressão de que somos duros para entender ou que nos esquecemos muito rapidamente das agruras pelas quais passamos - ou passaram nossos pais e avós. Em que nível intelectual e emocional sobreviveremos?

De tudo isso e um pouco mais restam dúvidas, na forma de mais algumas perguntas que se correlacionam. Um país se constrói com homens e livros, diria Monteiro Lobato, atualizando para a nação a ser construída por pessoas e livros. E quando restam apenas covardes ignorantes no comando? Países administrados por mulheres estão respondendo muito melhor à crise do coronavírus e covid-19. Alguma surpresa quanto a isso? Uma mentira repetida mil vezes pode se transformar em uma verdade, segundo princípios de Goebbels. Mas quantas vezes precisamos repetir uma verdade para que a população não acredite em mentiras e permaneça em casa? #IniCiencias

Comentários

  1. A experiência de uma pandemia, a afetar toda a gente (não só os que adoecem) é de fato perturbadora. Faz repensar o modo de trabalhar, de feriar, de estimar, de ler, de ouvir música. Até de simplesmente ouvir, com mais atenção, o que vai pelo mundo. E, para quem tiver ouvidos capazes, de entender melhor o significado da vida e da morte.

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  2. Concordo com a desesperança de um mundo melhor, pela experiência histórica, e mais ainda de um Brasil melhor. De todas maneiras, é o momento para se tentar fazer algo, pois depois, pode voltar tudo à mesmice. Temo não somente que os livros não sejam lidos, pelo bombardeio digital a que todos somos submetidos, como que acabem com as bibliotecas, lugar para que alguns interessados encontrem a história.

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