Cultura com samba

Entidades culturais se reúnem, fazem seu nobre trabalho, ainda que muitos de seus membros defendam idiossincraticamente o fascismo instalado no poder. Sim, mesmo sendo notória a destruição cultural do país, participantes dessas agremiações insistem em usar os espaços de comunicação e apresentação (em tese apartidário) para seus raivosos manifestos e convocações esdrúxulas. Não há ação humana que não seja política, isso sabemos. Ela pode não estar vinculada a partidos, correntes ou linhas ideológicas estabelecidas. Porém, entendo que viver é tomar partido, usando o título do livro de Anita Leocádia Prestes. Aproveitando mais uma pandemia que vivemos, tais indivíduos se comportam como vírus, pois querem triunfar sobre a destruição do hospedeiro.

O combate à ignorância é ininterrupto e não penso apenas na falta de conhecimento. A ignorância é a base da ciência, pois há sempre o que não se sabe e o que se quer saber. A questão é ignorar o diferente, o outro, as necessidades e histórias que não sejam as que se vivencia e vivenciou. Temos que sempre reafirmar o óbvio, o já estabelecido. No âmbito científico, perdemos tempo precioso para dizer que a Terra é redonda. Havia um blog intitulado "Sociedade da Terra Redonda" que pregava ceticismo e secularismo, que não está mais ativo hoje. É possível encontrar outros fóruns de discussão na internet e lugares nas redes sociais que ainda abordam os pressupostos daquele blog. Mas o elemento base era - e ainda é - uma crítica a uma crença que foi superada há dois mil anos de que nosso planeta seria plano. Li e participei de algumas dessas discussões anos atrás, mas havia uma ponta de arrogância que incomodava. Temos de insistir na afirmação do óbvio, mas não adianta apenas chamar de ignorantes os que propalam as mentiras. Devemos insistir no esclarecimento. A revista piauí lançou nesta semana um podcast de ciência chamado "A Terra é redonda", apresentado pelo jornalista Bernardo Esteves, que deve ser ouvido por ser muito bom. Para acesso pelo computador o endereço é este: https://piaui.folha.uol.com.br/terra-e-redonda-o-mundo-da-voltas/

Os meandros das descobertas de construção e destruição do conhecimento passam também pelo samba. O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas fez sua reunião inaugural de 2020 com uma brilhante mesa redonda com esse tema. Em noite inspirada e inspiradora, Bruno Ribeiro traçou parte da história do samba, realçando sua trajetória em Campinas, uma fala direta, clara e sem academicismos, que foi ainda pontuada com o violão de Adriano Dias e a suave voz de Andréia Preta. Rememorar os botecos por onde o samba se espalhou foi nostálgico. Aprendemos um pouco da diferença entre o samba paulista e o carioca. Além disso, uma ponta de irritação se sobressaiu com a constatação de que muito do batuque original das rodas de samba era vinculado ao candomblé, que tem sido varrido dos bairros campineiros devido à expansão das igrejas evangélicas. Tristes fatos e constatações, mas sigamos. #IniCiencias

Comentários

  1. O pior da ignorância é optar pela intolerância. Ignorantes, deveríamos todos vestir a capa da humildade. Radicalismo é a coroa a ornar a cabeça do inculto.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados