Oníricas realidades

Costumo anotar os sonhos de que me lembro logo que acordo. Alguns são totalmente fantasiosos, sem explicação e de difícil lembrança das imagens e fatos lá relatados. Situações confusas e cíclicas, envolvendo alguém a fazer ou solicitar uma tarefa, com faces e trejeitos bem definidos durante a exibição na mente. Mas outros possuem relações com as impressões do consciente deixadas no subconsciente. Freudianamente até procuro analisá-los e compará-los com preocupações quanto a relatórios, projetos e avaliações para terminar no final do ano ou às posições inadequadas de dormir no sofá tentando assistir a algum seriado. Quando muito, tais lembranças fragmentadas viram assunto de diversão da mesa do café. Alguns desses enredos, no entanto, se transformaram em contos e versos para poemas, avocando o direito de usar as imagens como parte de minha criatividade. Até agora não apareceu ninguém para dizer que estou plagiando os domínios de Morfeu.

Um governo que sonha com a volta de períodos sombrios, ditatoriais, de cerceamento das liberdades civis e individuais não poderia ser levado a sério. No entanto, a realidade é mais onírica, em pesadelo, do que os sonhos estapafúrdios que nos passa pela interface da consciência. Freud diria que é fruto da infância sofrida, talvez por ausência de balas. Trocou-se o doce pelo homógrafo homófono letal. Vivemos um descompasso entre teoria e prática nunca antes imaginado. Nem nos piores sonhos o discurso da plena democracia está tão longe dos ditos e malditos do governante-mor e seus asseclas, clã, familiares e milicianos. As ruas silenciaram há tempos, talvez resignadas pelos erros, envergonhadas de apoiar o lado desonesto e desumano da história ou ainda surpreendentemente convictas de que estavam certas, mesmo quando já lhes faltam a verba e o verbo.

A ficção imaginou um 2019 repleto de novidades e facilidades tecnológicas, cujo melhor exemplo são as concepções de futuro vistas no filme Blade Runner (o original de 1982). Para mim, o filme foi um dos raros casos em que a ida ao cinema foi melhor do que a leitura do livro de Philip K. Dick, respeitando a comparação entre dois tipos distintos de expressão artística. Aqueles carros voadores não existem, nem os replicantes que substituíram os humanos em atividades mais perigosas. Porém, a enxurrada de propagandas e a onipresença das imagens como forma de manifestação e comunicação é algo real. Com as notícias falsas de hoje, um fictício país está sendo erguido. E também a busca por algum momento de tranquilidade na vida artificialmente agitada que criamos. Ou fuga, como o filme nos mostra ao seu final. #IniCiencias

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