Sermos, antes de tudo, fortes

Falei sobre Euclydes da Cunha na Academia Campinense de Letras, na segunda, dia 5 de agosto, mas o objetivo primeiro era discorrer sobre as buscas em arquivos para o estabelecimento de seu texto literário. Em noite agradável, com grande afluxo de estudantes da educação de jovens e adultos, faltou uma melhor explanação do que é a obra principal do escritor: Os Sertões. O tempo não era suficiente para uma aula sobre o livro vingador e, portanto, algo ficou falho. Mas espero que os professores lá presentes usem a situação para contemporizar a relevância da obra, seu contexto e por que hoje, mais do que nunca, é tão importante sua discussão e seu entendimento. Procurei, na apresentação, mostrar o inusitado, nas entrelinhas e nas digressões, sobre palavras faltantes e outras equivocadas daquilo que restou publicado da obra de Euclydes. O público alvo eram os Acadêmicos daquela nobre casa do saber e da cultura. Que fiquem aqui e nas redes sociais os comentários para avaliar o quanto falhei.

A Semana Euclidiana com temática ambiental segue a todo vapor em São José do Rio Pardo e, infelizmente, não pude comparecer na edição deste ano. Um possível trabalho seriam essas entrelinhas da releitura de Ensaios e Inéditos, que Felipe Rissato e colaboradores levantaram sobre manuscritos de Euclydes da Cunha na busca pelo estabelecimento de alguns de seus textos originais. Sou da opinião de que se o autor deixou seus manuscritos é porque ainda poderia retornar a eles ou que ainda não estariam completamento prontos. Caso contrário, teria destruído-os. Reconheço que Euclydes, caso o fizesse, não deve ter tido tempo, assassinado que fora aos 43 anos. Mas assumimos que o material deve ser analisado à luz da época, o que torna a empreitada mais desafiadora. Há os que explicitamente deixam em testamento a destruição de certos escritos. Desses autores são as mais belas contribuições para a literatura universal, num arroubo de egoísmo e desonestidade de nossa parte, talvez. Meus originais são cada vez mais raros em papel e mais frequentes nos dispositivos eletrônicos e no mundo virtual. O que disso e de toda a produção intelectual de nossos escritores restará? Hoje consigo ler um livro impresso há mais de um século, mas não consigo ler um disquete de uma década atrás. A facilidade da informação cobra caro seu preço.

Pierre-Joseph Proudhon foi um anarquista francês considerado o precursor do estabelecimento dos ideais dessa corrente política, especialmente para o século XIX. Foi um dos primeiros pseudônimos que Euclydes da Cunha usou em seus textos juvenis, o que diz muito sobre a natureza de sua opinião política. Ao denunciar o crime de Canudos para o Brasil e para o mundo, sensibilizou-se com o que era o verdadeiro país. Buscou em seus conhecimentos científicos e de engenheiro as bases para explicar o que viu, talvez exagerando e errando um pouco, mas de forma consistente face ao que se sabia na época. Propunha escrever algo semelhante sobre a Amazônia que resultou em um livro de dimensão menor - À margem da história - contendo alguns artigos publicados nos jornais. Vivesse hoje, esse nosso Euclydes sofreria com a destruição concomitante das florestas e da ciência que mede a destruição. Os interesses econômicos nunca estiveram tão livres dos freios e contrapesos, catapultando a ignorância como política oficial do governo. Temos de ser tão fortes quanto o sertanejo de outrora e de hoje para resistir. #IniCiencias

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