Gosto

Amanhã, 15 de agosto, completam-se os 110 anos da morte de Euclydes da Cunha. Objeto de minha palestra já detalhada aqui na semana passada, Euclydes é o patrono de nossa Academia de Letras de Lorena, que faz seu décimo aniversário. A festa será no sábado, muito bem preparada pela nossa presidente Neide Aparecida Arruda de Oliveira. Haverá posse de novos membros e um programa cultural para comemorar este e outros aniversários. Houve também perdas ao longo dos últimos meses, a mais recente foi a da Acadêmica Maria Luiza Reis Pereira Baptista, ocupante da cadeira cujo patrono é Péricles Eugênio da Silva Ramos, poeta maior de Lorena, que estaria completando 100 anos. Já fiz menção a essas efemérides e comento que há muito mais acontecimentos do que dias no ano e, por isso, coincidências são frequentes. E agosto segue cheio delas.

Outro centenário deste ano é o de Primo Levi, comentado tempos atrás, mas com algum resguardo, pois havia frases sobre seu trabalho enviadas para a revista CULT como comentário que não as publicou. A revista fez uma reportagem baseada em uma carta que Levi escreveu a parentes no Brasil, descoberta no início do ano, cuja tradução foi feita agora. Na carta, relata um pouco de sua vivência em Auschwitz, sua sobrevivência como químico e o testemunho da guerra. Aqui o espaço é submisso apenas aos meus ditames, então segue a preterida carta, uma vez que gosto muito da possibilidade do encontro da ciência com a literatura. Motivo-me ainda mais a conhecer a obra de Primo Levi, dadas nossas semelhanças. Químicos, com certeza; escritores, da minha parte nem tanto. A carta trazida a público pela CULT mostra a clareza e precisão de Levi na descrição dos fatos, mas alimenta a curiosidade sobre a anterior perdida, mais longa ainda, segundo ele. Infiro que a tradução tenha sido feita pelos autores da matéria, Aislan Camargo Maciera e Maurício Santana Dias, que muito bem afirmam não existir a ruptura entre o escritor e o cientista, reforçando o camoniano verso "engenho e arte". #IniCiencias

Motivado por sacis após leitura de crônica no Correio Popular, constatei que a obra de Monteiro Lobato estar em domínio público significa ter acesso a textos integrais do escritor disponíveis na internet. Se antes ilícitos, a cópia e o compartilhamento das obras do autor do Sítio do Pica-Pau Amarelo tornaram-se permitidos. Voltei a me deliciar com O Saci, lembrando que as características desse ser folclórico foram tomadas previamente por Lobato, que fez um inquérito com o público pelos jornais. Arrefeceu um pouco a discussão sobre a abordagem social naqueles livros, o que demonstra que não se pode medir o passado pela régua do presente. Meu gosto por tudo o que Monteiro Lobato escreveu nunca diminuiu: foi ali que aprendi a ler de verdade.

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