Passagens e ultrapassagens

Além dos necessários protestos no Dia do Trabalhador, precisamos de profundas reflexões para entender o que estamos passando e avaliar se alguma solução se apresenta. Não haverá uma resposta pacífica ou única. Devemos arquitetar um rompimento com o ciclo de destruição de nossa memória, ocultações das informações sobre a sociedade e do extermínio das poucas conquistas sociais havidas até aqui. Nossas cartas de protestos, artigos de opinião e alguma discussão na internet - diga-se redes antissociais - ainda continuam sendo publicadas e compartilhadas, apenas como verniz de tranquilidade democrática. O país está se escondendo e se perdendo e já dissemos que um governo sem projeto é pior do que se tivesse um projeto ruim. Imagino que haja algum ser pensante dentre os minguados 35% da população que ainda aprovam os compadres do poder que se instalaram em Brasília. Poderia pedir que se dignificassem e passassem a defender alguma agenda de ações, mas sei que se expor ao ridículo demandaria um misto de coragem e bobagem.

O horário de verão vai ser extinto no Brasil. Pelo menos é o que foi anunciado, que escuto sem qualquer convicção, pois tudo o que é oficial é incerto. Gosto muito de tardes mais longas e sol até oito da noite. Mas entendo que a mudança de horário sempre foi benéfica para deslocar parte do pico de consumo de energia elétrica e, como a economia está em recessão, esse consumo deve ter diminuído. Porém, o que se escuta é que, sem o horário de verão, o trabalhador executa melhor suas tarefas. Ou seja, cai por terra qualquer argumento econômico-energético para prevalecer o mais tirano deles: uma oportunidade a mais para exigir do cidadão que se dedique a aumentar a riqueza, não a dele, mas a de quem o emprega!

No dia de hoje, primeiro de maio, completam-se 25 anos da morte de meu avô Cypriano. E também 25 anos da morte de Ayrton Senna. Ambos levam o y no nome, pelo menos assim aprendi, que foi excluído do nome de Euclydes da Cunha, sem explicação, mesmo com nossos protestos e a reinclusão da letra no alfabeto oficial. O piloto brasileiro marcou minha geração por seu estilo e representatividade, mesmo sendo profissional de um esporte que pouquíssimas pessoas podem sequer cogitar de praticar. Tornou-se um contraponto a outros esportistas atuais que usam bem a bola, mas não a transformam em civilidade. Aquelas mortes se tornaram pontos de memória: depois do velório de meu avô, segui direto na manhã seguinte, insone, em viagem rodoviária até Lorena para me apresentar ao diretor da extinta Faenquil, hoje um campus da USP. Após aprovação no concurso, havia sido convocado para uma reunião e para definir a data de início no novo emprego, que ocorreu uma semana depois. O início dos vinte anos seguintes de minha carreira como docente. #IniCiencias

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados