Luto hoje, luto sempre

De preto, de luto pelos cortes de recursos que o Ministério da Educação está fazendo no orçamento dos Institutos Federais e das Universidades Federais. O governo estadual não fica atrás, ao promover uma CPI das Universidades Paulistas. Mentem presidente, ministro e governador, pois é na Universidade Pública que se produz mais de 90% de toda a tecnologia, ciência e conhecimento do país. Não, não é a indústria nacional que o faz, muito menos a universidade privada. Muito pelo contrário, pois o empresário nacional é bom de conversa para defender o chamado liberalismo econômico, mas, quando a situação aperta, recorre imediatamente ao governo para suporte financeiro para seus empreendimentos. As universidades públicas são, portanto, locais em que não se faz balbúrdia, como o inepto ministro alega. Ministro esse que é economista e não sabe a diferença entre milhões e milhares de reais, quando foi anunciar valores para a realização de provas de avaliação educacional. Os cortes estão sendo chamados de contingenciamento, para adquirirem um verniz de que os recursos possam ser utilizados algum dia. A última informação é de que os recursos - mais de 30% do total - somente seriam liberados se for aprovada a reforma da Previdência. Ou seja, não é falta de verba, mas, sim, uma descarada chantagem para vingar um projeto econômico falido em sua essência política. Não muda o cenário o fato de que até interlocutores de partidos que apoiam o (des)governo estejam alertando para a destruição social que se está operando.

A camiseta preta que visto é do Prêmio Jovem Cientista, ganhada quando orientei a aluna Cibele Rosa Oliveira, que conquistou o segundo lugar na categoria Estudante de Ensino Superior em 2011. Uma época de boas memórias, quando a ciência e a tecnologia eram valorizadas no país. A área também é alvo de fortes cortes, uma vez que caminha junto com a educação de nível superior. O atual ministro não se opõe aos cortes que a área econômica faz e promove audiência pública para pedir apoio dos cientistas. Inovação para o inusitado! Em 2011 tive o privilégio de estar na cerimônia de premiação do Jovem Cientista no Palácio do Planalto em que também foi lançado o programa Ciência sem Fronteiras, do qual vários alunos da USP em Lorena participaram, com a oportunidade de aprimorar sua formação e seu conhecimento em outros países. Mas isso tudo é passado e a tragédia atual propugna cortar tudo que é essencial - educação à frente - e investir no porte e posse de armas e em decretos e leis pautados na religião.

O luto não pode ser apenas lamento. Na vida pessoal, aprendemos a transformá-lo em saudade e seguir adiante. Na esfera política, na qual vivemos todos nós que estamos em sociedade, o luto se transforma em luta. Mesmo com os cortes, continuamos a submeter nossos projetos de pesquisa. Mesmo com alunos passivos frente aos desmandos oficiais, continuamos dando oportunidades para que eles aprendam um pouco além da sala de aula. É também digno de registro uma certa mudança de humor nos comentários e editoriais de jornais e revistas, começando a tomar ciência da furada em que estamos todos metidos. Digo isso porque o Estadão de hoje publicou carta minha sobre a molecagem do governo federal, e o Correio Popular, um comentário meu sobre educação. Veremos como abordarão esses temas as revistas semanais, desde a falida Veja até a enlutada CartaCapital. Gianni Carta, jornalista, faleceu domingo, dia 5. O marco é o luto de hoje, e a luta é sempre! #IniCiencias

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados