Culto às forças incultas

A extração de dois dentes com os antibióticos tomados me deixaram um pouco zonzo. Talvez seja uma explicação para ver o mundo tão embaçado nestes dias. Eu não estava no Brasil quando Collor chamou a população às ruas para se manifestar em sua defesa, usando as cores verde e amarela. O povo foi, mas vestido de preto e gritando pela saída do presidente comprovadamente corrupto. Na Alemanha, chamaram de guerra das cores; não sei se escutaram o que se dizia aqui. Hoje a situação é muito semelhante e a previsão é que o chamamento oficial para apoiar a retirada de direitos do trabalhador seja um fiasco. Ou talvez não, evidenciando o lado mais sórdido das "pessoas de bens", defendendo um regime que beira o da exceção. Bem escreveu Ranier Bragon na Folha de S. Paulo: forças incultas estão agindo.

Emprestei, sem pedir, o título do colunista para compor o daqui. Um jogo de palavras pode ser traçado, usando o culto que possui cultura, com o culto da adoração, o oculto das forças apregoadas por Jânio Quadros e, agora, as incultas - mas não belas - dores de laço que nos prende a um passado nunca resolvido. Mais uma ironia, por certo, ainda mais que o falecido ex-presidente era professor e autor de gramática. Houve quem se lembrasse do Dia da Língua Portuguesa em 5 de maio, e traçasse loas ao nosso idioma, escorregando, porém, em verbetes e citações. Outros até criticaram a colocação de inexistentes crases, subvertendo a modéstia que Ferreira Gullar manifestou ao decretar que o sinal diacrítico não deveria humilhar ninguém. Crase é fusão, mas torna-se confusão na cabeça de todos nós. Um pouco de conhecimento bastaria para saber usá-la e a regra de ouro prevalece: na dúvida, não use. Sim, a maioria dos erros com acentos e congêneres (a crase está aí dentro) é usar onde não são devidos, uma vez que eles são exceção. A estatística contribuindo com a linguística. De qualquer forma, são manifestações do conhecimento, decretado à extinção oficial.

Gregório Duvivier em seu programa semana passada, como sempre, mostrou a tragédia nacional com muito humor, mas de forma reflexiva, que não nos permite apenas sorrir, mas também pensar. Bem, pelo menos aos que ainda possuem cérebro. Na crítica ao ministro que maltrata as universidades públicas por ter sido preterido em curso superior por uma delas, Gregório informou que também não foi aprovado na UFRJ, mas devido a suas limitações, uma delas foi ter zerado na prova de química - ela, sempre ela. E fez trocadilho de não ter havido 'química' entre ele e a universidade. Já discorri alhures que é instigante a química ser associada, nessa conotação, apenas com as propriedades atrativas das substâncias, sendo que o mais comum são as repulsivas, daí existirem diversos e distintos compostos. Mas pelo menos não depreciou a mais nobre das ciências. #IniCiencias

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