A melhor direção

No trânsito, em um cruzamento sem sinalização, a preferência de passagem é de quem vem pela direita. As ultrapassagens devem ser feitas pela esquerda. Apesar da seta indicadora de mudança de direção ser um item opcional em boa parte dos veículos automotores (especialmente os de Campinas), não há muita dúvida sobre o que sejam direita e esquerda. Nas salas em que se reuniam, a partir do local de assento de grupos políticos que defendiam um tipo ou outro de posicionamento, a eles foi dado o rótulo de esquerda e direita. Ao longo do tempo, as teses de esquerda se aproximaram de conceitos progressistas de maior envolvimento social nas decisões políticas, na busca de oportunidade para todos e no estabelecimento de um Estado que protegesse minorias e garantisse a fala democrática para todos. Bem, a direita evoluiu para tudo o que é contrário a isso: manutenção de privilégios de grupos, sufocamento de vozes minoritárias, noção de livre iniciativa e liberalismo econômico, como se todos nascessem em iguais condições sociais. E, é claro, o Estado mínimo, aquele que protege bancos e empresários e marginaliza ainda mais pobres e certos grupos étnicos.

Rótulos nem sempre coincidem com seu conteúdo. Hoje o Brasil possui 34 partidos políticos registrados no TSE. Fruto do período ditatorial, seis desses partidos fizeram questão de escrever o adjetivo democrático em seus nomes, talvez para deixar claro que combatiam aquele sangrento regime. Ciente de que boa parte das reivindicações políticas se originou dentro dos sindicatos de trabalhadores, outra meia dúzia leva o trabalho - ou cognatos - em suas siglas. Mas é o social que é maioria, estando em nove partidos, incluindo o PSL, do atual ocupante do Palácio do Planalto. Ou seja, seria ignorância absoluta minha associar a eles o rótulo de social, ou socialista, ou mesmo comunista. Tal bom senso não é sequer avaliado pelos mandatários da Nação e seus asseclas quando proferem estapafúrdias vinculações socialistas ao nazismo e ao desdizer a história, nacional e mundial.

Sigamos em frente, pois, já que a desgovernança nos caiu sobre as cabeças. Em várias direções possíveis, a de revisitar o passado é sempre rica em surpresas. A leitura de "Em busca do tempo perdido", de Marcel Proust, obra plasmada há um século, dá a dimensão do que a literatura pode ser. Iniciada a leitura, confesso que tardia, como outras, um novo passado se descortina. Infelizmente o tempo disponível é bem menor que o desejado para tal empreitada. E saber que singelas páginas escritas, como esta aqui, são fruto de extensa reflexão. Como Proust conseguiu? #IniCiencias

Comentários

  1. A consciência nos chega um dia, e quando analisamos minunciosamente a justificativa de coisas tão banais como a via de ultrapassagem de um automóvel, nos leva sempre a rever os sentidos mais básicos de nosso próprio agir... Brilhante reflexão... Imagino quais seriam as próximas deduções... parabéns pelo texto e obrigada por compartilhar!

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