Vida literal, morte natural

A morte é natural, mas não é natural a forma com que lidamos com a morte. Ela refoge a qualquer abordagem lógica, abrindo espaço para lágrimas, no plano individual, e revoltas, no âmbito coletivo. Desde outubro do ano passado estamos passando por intensas tragédias e ações criminosas que têm resultado em mortes de pessoas e de ideais. Provocamos as mortes sociais por uma maioria constituída e construída na mentira e também as mortes pelos crimes ambientais devido à escolha de um combalido modelo econômico. A queda da aeronave que levou à morte o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci foi tratada como fatalidade. Pode ser, mas fica igualmente enquadrada dentro da inabilidade de lidarmos com a morte. Matamos dezenas em Brumadinho e outros tantos nas enchentes, incêndios e tiroteios no Rio de Janeiro. Violência não é exclusividade de um estado ou cidade, a citação é apenas em função do exemplo - triste exemplo - mais recente.

São reflexões que não exigem embasamento científico porque não pretendem criar regramento ou modelos. Tentam não ser tão levianas para não serem tratadas com desdém. A seriedade aprendida na vida profissional impõe que algum conteúdo e sapiência devem existir, mesmo no mais comezinho comentário. Causa, portanto, assombro quando os detentores de cargos nos órgãos máximos no país atestam contumaz ignorância nos assuntos com os quais lidam, com viés ideológico nefasto. Aliás, ignorância perdeu a vergonha e passou a ser assumida com orgulho! Por isso é importante reafirmar que Chico Mendes e Paulo Freire são alguns de nossos expoentes nas áreas em que atuaram.

De vida, no entanto, é que devemos falar. Vida literária, ainda que os nobres autores já não estejam vivos. Monteiro Lobato voltou à baila, tanto pela entrada em domínio público de sua vasta e profunda obra, como também pela rediscussão do caráter racista de seus personagens e de sua literatura como um todo. Discussão importante a ser feita o que não diminuirá em nada o fato de minha iniciação à leitura ter passado por todos os livros dele, que ainda leio e releio. Não se pode medir o passado com a régua do presente. Inadmissíveis são atos de racismo hoje. Já as crônicas inéditas de Lima Barreto que andei estudando deverão ser objeto de uma matéria escrita por mim mesmo, uma vez que jornais já não têm interesse e pessoal para tratar de tal notícia. Por fim, a Academia de Letras de Lorena está bastante viva e fará reunião no sábado vindouro para a escolha da nova diretoria que será responsável por conduzir a Academia nos próximos dois anos. A professora Neide Arruda de Oliveira será nossa presidente e compôs uma chapa engajada na manutenção das atividades culturais, tão necessárias em tempos correntes. Vida literal que segue.

Comentários

  1. Parabéns, querido químico ambientalista das palavras! A Academia de Letras de Lorena, aguarda nosso encontro.Seja bem vindo como Diretor de Ações Culturais. Olga Arantes

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