Justiça real e ficção no cinema

O ministro Celso de Mello proferiu um voto histórico ao equiparar os crimes de homofobia e transfobia aos de racismo. Apesar do desnecessário detalhamento de bases jurídicas e históricas, bem como das comparações entre diferentes elementos do direito brasileiro e internacional, a extensa manifestação do decano do STF traz um pouco de luz em meio a tantos retrocessos pelos quais vivemos. Um Congresso Nacional extremamente conservador, mais retrógrado ainda que o anterior, passa a ser cobrado a legislar sobre o tema, caso o voto do relator seja seguido pela maioria dos demais ministros da Suprema Corte. Retardei um pouco esta publicação para ter ao menos a conclusão dessa avaliação preliminar. Houve elogios por parte de ao menos dois outros magistrados, o que pode ser uma indicação de uma corrente favorável para estabelecer essa jurisprudência. Diminuiriam os crimes? Creio que não, uma vez que temos estabelecidas as culturas da violência junto com a da impunidade em nosso país. Mas traz uma expectativa de proteção e discussão sobre um grupo extremamente vulnerável.

Decisões de juízes podem ser apenas parte da constituição de suas imagens, como vimos naqueles que, medíocres em suas varas e tribunais, são escalados para tratar de processos importantes e até viram ministros de Estado. No meio científico não é diferente e há os que até usurpam ideias e posicionamentos de outrem, contrariando o que vinham estudando e defendendo, apenas porque dá mais visibilidade. O cinema trata frequentemente da situação e cito o personagem David, interpretado por Tom Skerritt, que é contrário às pesquisas de busca de vida extraterrestre conduzida pela Dra. Ellie Arroway (a atriz Jodie Foster), no filme Contato (1997), e passa a ter o protagonismo para fazer o que seria uma primeira viagem intergalática, uma visita a outro planeta. Esse é um dos raros exemplos em que tanto filme como livro são excelentes. O livro e o roteiro do filme foram escritos por Carl Sagen. Admiro boas obras de ficção científica, especialmente as que trazem elementos científicos profundos, tornado a produção uma quase realidade. Nesse patamar incluo Interestelar (2014) e A Chegada (2016). Fiquemos com exemplos de filmes para não entrar na memória de vivências próprias sobre o tema usurpação.

Filmes são citados para quebrar um pouco a rudeza da justiça - o voto de Edson Fachin, relator de outra ação correlata no STF se inicia hoje - e também porque neste fim de semana acontece a premiação do Oscar 2019, sempre com todos os questionamentos e críticas cinematográficas envolvidos. Torço para que Roma conquiste ao menos o prêmio de melhor filme estrangeiro, apesar de concorrer também em outras modalidades, incluindo a de melhor filme no geral. Apesar de gostar da chamada sétima arte, o tempo me é insuficiente para assistir a tudo. E escolho muito antes de ir a uma sala de projeção, quase todas enfurnadas agora em shoppings centers.

Comentários

  1. Alguém definiu bem a postura dos homofóbicos. Eles acham que lhes estão tirando um direito fundamental: o direito de se meter na vida dos outros.
    E viva o cinema, poderoso formador de opinião. Também torço por "Roma".

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