História biográfica

Leonardo, você está me deixando sem graça! Lendo a biografia de Leonardo da Vinci, vejo que seu interesse artístico foi secundário, pois desejava ser reconhecido como engenheiro e cientista. Ao menos é o que se depreende do livro de Walter Isaacson, chegando no terço final da obra. E ressalta-se que aquilo que nos chegou do que Da Vinci elaborou é, na maioria, fragmentos e rascunhos, muito porque não tinha forte dedicação para a conclusão; Leonardo era mais adepto à inspiração. É claro, isso é a visão elaborada desse biógrafo, que pode não corresponder a toda a verdade. Li algumas resenhas desse livro e vi que o autor criou certa polêmica com suas revelações. Falta-nos a leitura de mais biografias, especialmente dos que contribuíram para nossa história, pensando no Brasil. Nos Estados Unidos é muito comum o lançamento simultâneo de duas ou três obras sobre um mesmo biografado, cada qual com um viés distinto. E lá não temem muito por proibições, como acontece aqui sistematicamente, de reis a súditos. Claro, falo isso pensando em um país que lê e que é livre e crítico para saber que o conhecimento não brota do WhatsApp.

O retorno às atividades laborais diminui o deleite com os livros e faz voltar a atenção aos mesmos problemas de antes: falta de recursos para ciência e tecnologia, diminuição da importância brasileira no mundo, asneiras governamentais, sobressaltos com as medidas referentes a educação, ambiente, direitos humanos e segurança. Além daquilo que deve vir em relação ao trabalho e emprego. Curioso que por muito menos, protestos se espalharam por ruas e avenidas e, agora, ficou estabelecido o império do silêncio. O Brasil vinha escrevendo linhas mais robustas em sua biografia histórica, mas foi impedido de continuar. Mentiu para si mesmo e acreditou cegamente, de forma institucionalizada. Em inglês pode-se brincar com as palavras 'lie lays law', a mentira estabelece a lei.

Participar de eventos internacionais para um cientista é crucial para a divulgação de seu trabalho, estabelecimento de colaborações e abrir possibilidades para seus alunos terem experiência no exterior. Usei dessa prerrogativa várias vezes, ciente de que o tempo é raro e deve ser bem usado. Todos meus alunos de pós-graduação tiveram a oportunidade de viajar em função desses contatos e também por iniciativa deles próprios. A importância de um evento e apresentação deve ser proporcional à responsabilidade assumida. Internacionalizar é um dos fortes objetivos do sistema de educação e pesquisa das universidades públicas brasileiras, que contribui para a formação de pessoas e para a biografia e economia do país. Nas apresentações, as palavras devem ser bem escolhidas e usar de todos os argumentos baseados em fatos para mostrar a responsabilidade de estar assumindo aquela importância. Às vezes, porém, não dizer o todo impede de revelar que nada se é.

Comentários

  1. Excelente texto! Muito bons argumentos! Parabéns!

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  2. Este texto nos proporciona uma reflexão angustiante àquele que ama fazer pesquisa, quer compartilhar e não tem recursos para tal. Participar de congressos e eventos é muito caro para o pobre pesquisador que vive a buscar verbas. Parabéns, Adilson, por retratar a angústia de nós, professores e pesquisadores!

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