Respostas ao vento

Está lá bem registrada no facebook a foto com Eduardo Suplicy. Ele veio à Unicamp para uma palestra sobre Renda Básica, evento promovido pelos alunos e ocorrido no Instituto de Economia. Admira-me a memória do senador (sim, ele é vereador na capital paulista até o final do ano e será senador a partir de 2019) para eventos, pessoas e datas, apesar de uma voz um pouco mais cansada. Cativou a audiência com sua aula sobre o assunto que domina e até concedeu entrevista à Folha de S. Paulo concomitante à exposição. Não houve espaço para perguntas da audiência. Eu perguntaria por que programas de governo tão bons não conseguem virar programas de Estado, sendo destruídos a cada mudança de gestão. Imagino que Suplicy diria que "a resposta é levada pelo vento". Claro que ele cantou Bob Dylan, sua marca em todos os eventos. Dei um exemplar de meu livro a ele que prometeu me enviar o dele pelo correio. Iniciada a contagem da ansiedade.

Sérgio Rodrigues escreve uma coluna hoje na Folha de S.Paulo (parece que só leio este jornal...) discorrendo sobre a importância de certas palavras e a pouca importância que lhes é dada. Respondi a ele dizendo que é exatamente por não darmos atenção ao que é dito, desdito e maldito, ficamos à mercê do culto à ignorância. O filósofo diz que não há palavra sem a coisa que a represente, em uma relação aparentemente biunívoca. Hoje resolvemos não nominar certos coisos para evitar a assimilação de alguma maldição ou algo parecido. A ironia com que a questão é tratada nas redes sociais esconde a dificuldade que temos em separar o ódio da democracia. As pessoas podem desprezar como se deu a evolução social em nosso país, mas, paradoxalmente, o povo, ele não! 

Muitas palavras juntas resultam em textos que podem ser lidos de formas distintas. A obra literária de Machado de Assis, por exemplo, é vasta e atual, tirando alguns vocábulos que tiveram sua marca de maior uso no passado. Dá até para usar hoje suas tiradas e olhar clínico e crítico sobre a sociedade da época, sem que se sinta necessidade de explicar que já existem há um século ou mais. Da mesma forma, ensinamentos religiosos seguem tal premissa, baseando os ensinamentos do progressista ou do torturador, do socialista e do escravocrata. Eu mesmo, ateu convicto e praticante, fui atrás de um desses aforismos bíblicos e me deparei com: "E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo". O curioso é a fonte: Marcos, 13:13.

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