Cultura da quebra

A família toda se reorganizou para uma sexta-feira e fim de semana sem carro. As meninas foram levadas às escolas pelo pai da colega de turma, a mãe iria ao trabalho de carona e o ônibus seria usado com um pouco mais de frequência. Mas, ao viajar ao Vale do Paraíba para cumprir compromissos em Guaratinguetá e Lorena, um parafuso de sustentação do motor se rompe e atinge correias e polias. Uma peça de quase um palmo de diâmetro pula e rola pela estrada. Isso logo pela manhã, no início do trajeto. Retorno à casa, deixando o carro na oficina levado pelo guincho. No tempo esperando o transporte, divagações sobre a materialidade da existência e a insustentabilidade do pensamento.

Sim, o fato foi realidade. Insisti com um carro emprestado e fui pelo menos à tradicional festa de aniversário da Academia de Letras de Lorena no sábado, para respirar um pouco de cultura e se emocionar com a lembrança ao professor Nelson Pesciotta, nosso mestre e fundador, falecido em maio deste ano, há exatos três meses. Distribuí para os interessados meu "Transformações na Terra das Goiabeiras", ganhei vários volumes interessantes e recebi exemplares da nona coletânea da Academia, edição em homenagem a Péricles Eugênio da Silva Ramos, cujo centenário de nascimento será comemorado ano que vem. Boa conversa, com direito a óculos sumidos e fechamento da cantina bebendo o delicioso vinho, brindando ao professor Nelson. Sem arrependimentos pelo esforço empregado. Uma quebra não levou a outra.

Um dos Acadêmicos, leitor assíduo deste blog, instigou-me a comentar sobre os candidatos lançados este ano à presidência da República, usando, talvez, de alguma ironia, mas tenho minhas reticências para levar o convite a cabo. Continuo preso a minhas convicções e refutando os princípios alquimistas da anestesia política. Não quebrarei esse paradigma, mesmo que Dorian Gray permeie por ali, junto ao novo que faz a velha política e aos filhos dos golpes. Não vejo democrático o trabalho - mesmo que social e unificado -, nem o bolo a ser repartido para todos. Eh, eh, eh, parece que já avanço demais, sem sustentabilidade, verde ou de qualquer outra cor. Paro, pois. Remuneração para esta empreitada? Ao bolso, nada!

Comentários

  1. Um químico moderno não poderia mesmo aceitar alquimias. A não ser a dos trocadilhos de algibeira: estamos todos de bolsos vazios. Resta o gosto de ler um blogueiro inteligente.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Letras que dizem

Finalizando

Pedaços quebrados