Dormências

As queimadas trouxeram quantidade grande de fuligem para a garagem de minha casa, que adentraram por debaixo da porta da sala e marcaram o chão. A sujeira é mais do que o trabalho da limpeza, traduzindo a ignorância coletiva de atear fogo nos matos como ritual histórico de purificação. Na química aprendemos cedo que quanto mais pura a matéria, mais sujo ficou o ambiente ao redor. A queimada da cana-de-açúcar foi deveras reduzida, pela lei e não pela vontade, mas são fogos em terrenos a origem dessa mazela coletiva que me tira o sono. Os pulmões sabem muito bem essa combinação de ausência de chuvas com fumaça e poeira no ar.

Neste emblemático 13 de maio continuo a leitura de Lima Barreto: triste visionário, interrompida em algum momento pretérito. As conexões com estudos e estudiosos da obra do escritor e de outros contemporâneos devem me levar a redigir uma matéria sobre a descoberta do passado pela leitura de jornais antigos abrigados na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, se eu acordar a tempo para isso. Conseguir elaborar textos jornalísticos com base na divulgação científica é tarefa árdua, mas que traz suas compensações. Um sobre o quente e o frio na alimentação saiu na revista eletrônica ComCiência, do LabJor da Unicamp, e tive a oportunidade de redigir dois perfis de palestrantes para o Pint of Science que acontece em várias cidades do Brasil nesta semana.

A Unesp propicia a edição de livros de seus pesquisadores e professores. Pensei em aglutinar um segundo volume de minhas colunas espalhadas por aí, mas pegam-me tanto o prazo - esse infeliz primo do tempo - e a adequação. A proposta é para livros de conteúdo, não didáticos, mas também não de literatura. Talvez minhas reflexões sobre o ambiente, as queimadas, a ciência, a história, as descobertas literárias e a própria odisseia de publicar um livro não se adequem e fiquem ainda mais um tempo dormentes em arquivos de computador.

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