Guerra e paz

A obra "Guerra e paz", de Leon (ou Liev) Tolstói, é um catatau de mais de 1500 páginas, considerando uma edição mais recente de capa dura. Foi lido há um bom tempo e não está na lista para releitura, por enquanto. Concluído em 1869, conta a história das guerras europeias do início do século XIX, tendo Napoleão Bonaparte como um dos personagens, mas não é sobre ele o enredo, mas, sim, de famílias aristocráticas e suas incursões bélicas, com as inúmeras consequências. Uma obra desse porte possui várias versões e parece que o autor manteve os originais com outro final que foi publicado bem recentemente, além da primeira versão, que começou a sair em fascículos em jornal, como era comum na época. O filme, baseado no livro, em intermináveis três horas e meia, é outra obra prima. Feito em 1956, com Audrey Hepburn, Henry Fonda e grande - no duplo sentido - elenco, foi dirigido por King Vidor e creio que passou na televisão na forma de capítulos, como uma minissérie. Também tenho memória visual de ter assistido batalhas e batalhas que se deram em campo aberto com soldados em rico figurino. Boas obras para conhecer um pouco de nossa história, ainda que sejam ficcionais.

A combinação antagônica dos termos que compõem o título é a nossa cruel realidade. No Oriente Médio, comemoraram um cessar fogo entre Israel e Hamas e a medida primeira que temos notícia são bombardeios e execuções sumárias de membros de grupos rivais, isso de lado a lado. Tal miscelânea de esperança e indignação foi na semana em que se aguardava a divulgação do laureado com o Nobel da Paz deste ano, sendo que Donald Trump – isso parece que é a pura verdade – tinha a esperança de ser o agraciado! Vejam só! Entendo que os comitês de premiação do Nobel fazem uma prospecção e consulta ao longo de um tempo, não apenas decidem à luz de fatos de momento. Premiaram outra pessoa, não sem polêmicas, ativista da guerra, tanto é que a cerimônia deste ano será diferente, sem a presença de grupos que defendem a paz verdadeira. Assim, quando falam de paz, precisamos ficar atentos para o que querem dizer. Pode ser apenas o complemento do título do livro. Ou fogo na expressão "cessar fogo" não é atividade belicosa (e não beliscosa, como exarou um pretenso candidato presidencial do consórcio da matança)?

A natureza parece estar em guerra com todos, em legítimo ato de defesa ou de consequência direta da lei da ação e reação da física. Mais um cataclismo em curso, desta vez no Caribe. Porém, até o momento, a força do furacão diminuiu, ainda que mortos e feridos estejam sendo computados às dezenas. É mais um exemplo do que as mudanças climáticas extremas podem causar e os negacionistas da ciência de plantão continuam a apostar em mentiras e balelas para bois dormirem. O levantamento mais recente mostra que o furacão Melissa causou 50 mortes, um número menor do que o de mortos no Rio de Janeiro nesta semana. Tirando os quatro policiais, diz o governador fluminense (no caso, o que está desgovernando o estado do Rio de Janeiro e não o seu vizinho) que todos os mortos são bandidos, mesmo antes de realizar a necrópsia e identificação dos corpos. A conferir, pois numa guerra – toda e qualquer guerra – a primeira vítima sempre é a verdade.

Comentários

  1. "O levantamento mais recente mostra que o furacão Melissa causou 50 mortes, um número menor do que o de mortos no Rio de Janeiro nesta semana. Tirando os quatro policiais, diz o governador fluminense (no caso, o que está desgovernando o estado do Rio de Janeiro e não o seu vizinho) que todos os mortos são bandidos, mesmo antes de realizar a necrópsia e identificação dos corpos. A conferir, pois numa guerra – toda e qualquer guerra – a primeira vítima sempre é a verdade." Sim, a verdade capítulou.

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