O motor e o som
Todos os homens do ex-presidente tramaram ao longo da semana e o filme que consagrou os bastidores que levaram ao escândalo de Watergate foi relembrado devido à morte de Robert Redford, um dos protagonistas. Foi no mesmo dia em que lembramos os 129 anos de morte do campineiro Antônio Carlos Gomes, o maior compositor das Américas, em 16 de setembro. O carro na oficina, de novo, impediu a ida à bela cerimônia no monumento-túmulo e a outras apresentações musicais na cidade, que respira um mês destinado à memória do maestro. Ainda há eventos acontecendo nesta última semana, cuja programação pode ser conferida aqui: https://campinas.sp.gov.br/noticias/mes-carlos-gomes-2025-tem-programacao-especial-em-campinas-confira-as-atividades-128547. De certa forma, a resignação doméstica foi injustificável, pois transporte não falta. O resguardo vai além de uma falha mecânica automotiva, uma vez que são outras as disfunções. Estou doente, uma tosse tratada a xarope, que deve ser consequência de algo mais profundo.
O motor do conhecimento e do saber falha menos do que o do veículo, com seus barulhos insistentes há muitas semanas. Veículo de mais de uma tonelada que transporta um décimo de sua massa. Já fiz esse comparativo antes, para além do automóvel, relacionando o trambolho de uma máquina de escrever com a dimensão de um software editor de textos dentro de um computador. Tudo parece exagerado e grande para o resultado obtido. A máquina em relação à folha de papel, os gigabytes do programa computacional comparado com o pouco espaço de um arquivo doc simples. Aquele motor mental bate seus pinos e as válvulas de escape por vezes empenam, emperram ou simplesmente param de funcionar. A mente não mente e diz que precisa de cuidados. É a voz que ouço dentro de mim e atento estou. Lamentos somente? Não, o atraso na publicação do Blog permitiu presenciar momentos cativantes ao ver minha bandeira verde e amarela nas ruas, novamente, coincidindo com o dia da árvore. Sim, temos um dia para a árvore como se todos os dias não fossem dias de vida.
Hermeto Pascoal tirava som ou, melhor dizendo, mostrava os sons que a natureza possui, incluindo as inúmeras árvores que usou. A atividade sonora necessita de um objeto, pois o som é onda mecânica e ele sabia que bastava a matéria, qualquer matéria, para dela revelar seu som. É claro que sem sua genialidade de bruxo, a musicalidade desse som seria apenas um sujeito oculto. Som somos todos. Quando alguém famoso morre, de músico a ator, de político a cientista, sensibiliza algo em nós para além da tristeza inexorável. Vai-se o exemplo de vida - positivo ou negativo - com o qual nos enaltecemos ou sofremos em algum momento. A efeméride que encerra a vida é tão significativa que a Wikipedia, dita hoje como precursora do ChatGPT, possui uma página dedicada às mortes de famosos em cada mês do ano (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mortes_em_setembro_de_2025). De qualquer forma, o som da morte é o silêncio.
Muito bonito saber transitar entre a vida e a morte , do som ao silêncio com toques que nos levam à reflexâo.
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