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Mostrando postagens de maio, 2025

Retratos em branco e preto

Foi-se Sebastião Salgado e sua doce e amarga interpretação da realidade. Basta o artista morrer para aflorar a lembrança de sua obra. Triste, mas real. Parece que nos retraímos ao referenciar os intérpretes do mundo quando ainda vivem. Precisamos reverter tal tendência, pois, por mais inexorável e abundante que a morte seja, há tempo para viver. E são muitas as vidas vividas e vívidas que tornam símbolos, como foi a de nosso cosmopolita fotógrafo brasileiro. Nas redes sociais pipocam anônimos ao lado de Sebastião Salgado, provando que lá estiveram e um átimo de tempo puderam com ele compartilhar. Não tenho fotos com ele, nunca me aproximei, mas tenho as fotos dele em belos livros e intensas memórias. Das minhas anotações - em cadernos, rascunhos e arquivos digitais - constato que fui admirador totalmente passivo de sua obra, uma vez que não encontrei sequer uma linha de comentário a algum lançamento ou reportagem. Essa ausência de palavras não joga nenhuma luz sobre a importância dele ...

Tempo de amor

Sou viajante do tempo, revelo a todos neste testamento, uma vez que descobriram essa minha faculdade pelas verdadeiras redes sociais nas quais mostro as imagens das viagens. Viajo todos os dias em direção ao futuro, afastando-me do passado. Pressinto aquele sem esquecer deste. Por vezes, inúmeras vezes, confesso que faço longas viagens ao passado, quando leio os clássicos da literatura ou assisto a excelentes filmes. Antecipar as viagens ao futuro eu também pratico, com os livros de ficção científica - que também são boa literatura-, mas, nesse caso, a garantia de legitimidade é menor. Bem, quem leu Júlio Verne, de mais de um século e meio atrás, fez viagens garantidas ao futuro, sabendo o sucesso da empreitada apenas depois, bem depois. Já com Isaac Asimov, nos anos 1950-1980, a viagem ainda está por ser certificada. Creio que, em breve, Asimov será mais um futurista concretizado, como o fora Verne. Todos esses escritores ficcionais viveram proximamente à ciência para garantir a veros...

Fusca azul

Na correria de juntar os documentos de meu falecido pai, esquecidos em antigas caixas de camisa feitas de papel, apareceu uma tirinha verde e amarelada, lembrando o título de eleitor de antigamente. Não era. Era o documento de propriedade do fusca vermelho que ele teve décadas atrás. Certificado de registro e licenciamento de veículo é o nome correto e não havia versão digital como hoje. Aliás, sem o celular em mãos, não é mais possível se identificar ou comprovar quem somos e por onde vamos. Já somos um código binário impresso em nossos telefones. Conheci bem aquele carrinho, pois foi nele que aprendi a dirigir pouco depois de fazer 18 anos. Não tive muito interesse em seguir adiante com a habilidade e somente perto dos 30 anos é que usei o aprendizado para tirar a carteira de motorista (ou carta, como dizem muitos motoristas aqui em Campinas, mesmo não trabalhando nos correios e não remetendo o documento a ninguém). Ainda acreditava que a bicicleta era o melhor transporte para curtas...

A mãe dos fatos

Eis a sequência selecionada de efemérides no pós-feriado: 4 de maio é o dia Star Wars, coisa dos amantes da saga ( May, the fourth ); dia 5 é o da Língua Portuguesa; e o 6 é dia da Matemática. Somente aqui temos uma tríade de peso semanal e seminal. O de nossa língua foi instituído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e o da matemática é homenagem ao nascimento de Malba Tahan, nosso escritor Júlio César de Mello e Souza, que viveu a infância em Queluz, no Vale do Paraíba. Os acontecimentos diários são a origem de lembranças para os próprios fatos e suas consequências e circunstâncias. Se vivemos, acontecemos. Deixaria tais efemérides óbvias de lado, pois o mundo católico escolheu um novo Papa por estes dias, de olho na cor dos produtos de combustão que saíam das chaminés do Vaticano. Na sucessão de Bento XVI eu até me candidatei, com carta publicada e cheio de intenções. Desta vez, na sucessão de Francisco, abri mão. Pelo jeito, conseguiram escolher uma fera para a posição....

Trabalho científico e cultural

Nos tempos de Lorena, o Primeiro de Maio era invariavelmente passado nos Estados Unidos participando de congresso científico anual na área de biocombustíveis. Outros tempos, mesmos interesses. Naquele país não é feriado, o que foi surpresa no início das participações, acreditando tratar-se de uma comemoração mundial, tal como é o Natal. De presente, apenas nossa presença nas três sessões diárias - manhã, tarde e noite - em que o evento era organizado. O grupo de brasileiros sempre foi significativo, e alguns alunos meus de doutorado tiveram seus resultados lá divulgados, aproveitando oportunidades para desenvolver estágios em outros laboratórios. A internacionalização da ciência serve para isso também. Os encontros científicos de hoje foram reduzidos no tempo, mas não na importância. Vinte anos atrás, o estabelecimento de combustíveis advindos de fontes renováveis era questão primordial na pesquisa científica para o combate ao aquecimento global e mudanças climáticas, com o protagonism...