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Não tenho roupa para a festa

Nos tempos de Faenquil, a Faculdade de Engenharia Química de Lorena, antecessora da Escola de Engenharia de Lorena, hoje um campus da USP naquela prestigiosa cidade vale-paraibana, estudamos os resíduos agroindustriais de várias maneiras. Certa vez fomos procurados por uma jornalista voluntariosa que queria investigar a possibilidade das fibras de bagaço de cana comporem tecidos finos a serem usados em desfile de modas. Ela tinha contatos e a ideia de compor uma bandeira - um pedaço de tecido que seria usado para costurar um vestido, por exemplo. Conseguimos um financiamento para bancar um pré-estudo que incluiu alunos de graduação. Batizamos a empreitada de "bagaço-fashion", não sem a devida ironia. Usando a semelhança fonética, dizia-se que eu era fashion: fechem os olhos para o que visto. O que de mim é visto não é o que visto. Nunca tive preocupação ou interesse para o vestir. Meus dois ternos são os mesmos comprados e usados pela primeira vez no casamento de meu irmão, ...

Narrando o imaginário

No final de semana foi a festa de aniversário dos 16 anos da Academia de Letras de Lorena (ALL), com excelentes palestras, bolo e o lançamento da coletânea contendo a produção de todos os integrantes de nossa entidade. Sumários acerca do acontecimento pipocam por aí e o caminho primeiro para ver as fotos e ler comentários é o Instagram ( https://www.instagram.com/academiadeletrasdelorena/ ). A parte musical ficou por conta dos Acadêmicos Guto Domingues e Joffre Capucho, que fizeram duetos e apresentaram o Hino da ALL, composto pelo Joffre e pelo também Acadêmico Luís Otávio Cardoso; vejam só, temos um hino! Meu artigo na coletânea relata a história deste jovem Blog dos Três Parágrafos, com seus frutos, acidentes, agruras e a conclusão de que é meu principal lugar de fala e de refúgio. A narrativa que empreguei foi a mais próxima da realidade, mas, escritor que todos somos, o imaginário adentra toda e qualquer página escrita. Por isso preciso atualizar o Blog, pois quero ficar pronto pa...

Escolha de palavras

Cada palavra possui um significado único. Mesmo no caso de sinônimos, a escolha entre um e outro leva em consideração uma série de vontades e verdades pessoais, fato que os dicionários escondem. Há vocábulos efêmeros, que simbolizam acontecimentos momentâneos que o tempo apaga. E existe o que é sem ter um rótulo específico. O que há algum tempo tem sido denunciado pelo mau uso das redes sociais envolvendo crianças, ressurge com o nome de adultização, termo que aparece já no final dos anos 1960, sendo mais frequente nos anos 1980, mas sem constar dos dicionários até hoje. Curioso que o verbo do qual é originário não aparece em consulta à hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Ou seja, Aurélio e Houaiss não se interessaram por aquilo que representava a supressão criminosa da infância de crianças. Sérgio Rodrigues, na Folha de S. Paulo, é quem está atento ao jogo de palavras no qual estamos inseridos, mesmo sem o querer. Além da adultização, dia desses ele falou da origem da traição, ...

Felinicidade

Gatos é o assunto, pois sua felinicidade é contagiante. Somente após os 40 anos é que passamos a ter gatos em casa. Ou melhor, eles chegaram aqui para ficar. Na casa de meus pais, minha irmã teve um gato quando criança, mas era o Xaninho dela, que a esperava quando chegava da escola, escondido em locais diferentes a cada dia. O gato é esperto e instigante e creio que por isso tem sido associado a questões esotéricas e até científicas de difícil compreensão. As bruxas sempre tinham um felino por perto - adoráveis sejam todas essas 'gatas' - e Schroedinger usou um bichano para ilustrar seu conceito de superposição quântica. O oráculo do google diz que neste 8 de agosto foi o Dia Internacional do Gato. Aqui em casa, todo dia e o dia todo é do gato. Dos gatos, já que são quatro felinos que convivem com os quatro humanos e a cachorra. Sem contar o Sassá, o saruê que por vezes adentra a área de serviço para comer a ração dos gatos. Os macaquinhos ficam mais longe, no muro, alimentand...

Vale de sorrisos

O resumo do encontro vale-paraibano de academias culturais de semana passada gerou comentários, elogios e alguma apreensão pelo que escolhi dizer - e pelo que omiti ( https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2025/07/encontro-de-academicos.html ). O espaço é um dos limitantes, pois o mundo cibernético é supostamente ilimitado até chegar ao cansaço do leitor. Entenda-se aqui como leitor aquele que consegue vencer a barreira das primeiras três linhas, elemento raro no mundo moderno, em que apenas a lacração de títulos é que dá cliques e 'engajamento'. Deixei de fora, por exemplo, falar do querido professor Alexandre Barbosa, que está debilitado, em tratamento médico, e, mesmo assim, compareceu em cadeira de rodas no evento para apresentar os dois volumes já lançados sobre os perfis de escritores vale-paraibanos, que ainda não consegui adquirir. Na festa de aniversário da Academia de Letras de Lorena, daqui a duas semanas, assim o farei. Também deixei de mencionar o jovem Acadêmico ...

Encontro de Acadêmicos

O fim de semana de dez dias atrás foi de júbilo, com o encontro das Academias Literárias e de Artes do Vale do Paraíba, em minha Lorena querida, promovido por nossa Academia amada. Estive lá acumulando a presença como membro fundador da Academia de Letras de Lorena e representando os presidentes das duas Academias de Campinas às quais pertenço. Ana Maria de Melo Negrão, presidente da Academia Campinense de Letras, e Sérgio Caponi, da Academia Campineira de Letras e Artes, delegaram-me o nobre mister. No passado, houve dissabores entre fundadores de uma e de outra instituição campineira, mas que com o tempo - o onipresente senhor da razão - foram extintos. Tanto é que muitos de nós somos membros de ambas. Em minha contagem, oito acadêmicos mantêm a dupla filiação, à semelhança do que ocorre em outras cidades. A cultura deve ser maior do que o ego dos que querem constituir uma academia apenas para chamar de sua. Por isso a Academia de Letras de Lorena é nossa instituição cultural. Surpre...

Trânsito em transe

O irritadiço condutor do automóvel moderno fez ultrapassagem pela direita, acelerou mais do que permitia a regra humana, buzinou, deu farol alto e espalhou seu mau humor por toda a parte, aos demais motoristas da via expressa. Não sabemos se estava trajando luto, ou engravatado para o mister empresarial em um escritório do prédio envidraçado da famosa avenida. Conseguiu adiantar-se valiosos cinco minutos para chegar, mesmo assim, atrasado ao local de trabalho, com a triste finalidade de alimentar um sistema capitalista em que é iludido na função de ser algo além do produtor de riquezas para outros. Não é nada além de assalariado. Lá atrás, meia hora antes, ao ver o bólido prateado errante em alta velocidade atrás de si, a senhora agarrada ao volante de um pequeno carro de passeio - assim é chamado - pensou se deveria reduzir seu ritmo, uma vez que dar passagem estava fora de cogitação por já estar trafegando na pista intermediária, abaixo do limite máximo e acima do limite mínimo, que ...

Brio e calafrio na festa

No Facebook consta o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no dia 8 de julho porque é o dia da ciência e do pesquisador. Foi pouco lembrado talvez porque dia de ciência e como dia de respirar. De toda forma, juntando as datas comemorativas dessas duas últimas semanas, há uma mescla de civismo com festa e irritação. O aniversário de Campinas é coincidente com o da Queda - ou Tomada - da Bastilha, marco dos princípios republicanos e democráticos da chamada sociedade ocidental. A revolução é, portanto, feita de caídas e reconstruções. Aqui na Terra das Andorinhas houve a reinauguração do Centro de Convivência Cultural, com apresentação da orquestra sinfônica municipal. O complexo leva o nome do maestro Carlos Gomes e ficou 14 anos fechado devido a infiltrações e risco de ruir. Muito dinheiro foi utilizado no restauro, realocando parte dos recursos que seriam usados para a construção de um teatro de ópera na cidade. O Centro de Convivência possui um teatro ...

Beleza

O belo é estético, é íntimo, é relativo, é interativo. O belo é único e é insano porque é meu. O seu belo também será seu, não se preocupe. Mas também o belo é bélico nas guerras insanas. Há muito me incomoda a origem da beleza e da guerra resultarem homógrafos homófonos tão distintos, tão opostos. Coisas de uma rica língua neolatina. A belonave é de triste guerra, não de nobre paz. Pena que a paz não seja tão ligeira como seu palíndromo, o zap, em que mensagens fluem em velocidade próxima à da luz, arrastando coisas das mais diversas, incluindo a beleza. Sim, muito lixo é transportado pelas ondas cibernéticas, mas aos olhos e ouvidos atentos restará uma boa dose de boniteza ali. E nem precisa ser um quadro de Renoir ou uma sinfonia de Beethoven, nem mesmo um poema de Leminski, nem uma escultura de Rodin. A arte é bela pelo que desperta, não pelo que é. O ser belo é predicado, restando ao sujeito da observação a responsabilidade pelo verbo que lhe dará existência. Pureza rima com belez...

Ano ao meio

Acabei de sair de uma "Riobaldia" na Biblioteca Municipal Prof. Ernesto Manoel Zink, dentro das comemorações do aniversário de João Guimarães Rosa. A experiência em quase êxtase com a oralidade do escritor e suas palavras reflexivas e profundas faz com que integrem um estudo mais coeso e longe destes parágrafos. O período desses dias foi marcado pelas festas juninas chegando ao fim, dias em que consegui ir a algumas quermesses e saborear um quentão com pastel e cachorro-quente. O gastro não deve ler essa confissão e poderei dizer que está tudo bem, depois de uma endoscopia conjunta com uma colonoscopia para aproveitar a sedação. Também foi feriado em Rio Claro, no mesmo dia do São João, emendado com o anterior, de Corpus Christi, o que resultou seis dias sem atividade de trabalho, mas que nada mudou na diminuição da lista de afazeres. O tempo é igual para todos, mas a maneira como ele é preenchido é o que dá a dimensão do prazer ou não de usá-lo. Há tempo para tudo e tudo tem...

Química aos pedaços

Surpreendi-me com o desconhecimento do repórter da rádio CBN Campinas quanto à palavra cavaco. Um caminhão carregado deles tombou na estrada, bloqueou todas as pistas de rodagem e espalhou a carga. Caos matinal na cidade. Mas o repórter tentou achar sinônimos com os quais tivesse mais familiaridade, pois cavaco era-lhe estranho. Lascas de madeira foi o termo encontrado. Cavaco não. Consultei outros ouvintes e parece que cavaco não é mesmo um termo comum. Associam o diminutivo ao instrumento musical, mas não aos pedaços resultantes do corte de toras de madeira, que serão usados na polpação para obter papel ao final do processo. Papel de múltiplos usos, até para escrever cartas, não podemos deixar de registrar. Foi com uma dessas ao jornal que iniciei minha trajetória de missivista contumaz e foi com outra, de amor, que a cultura lorenense me descobriu. Até cartas manuscritas mantêm seu espaço, diminuto, mas existente ( https://correio.rac.com.br/campinasermc/habito-de-escrever-cartas-so...

Saberes reflexivos

Minha irmã gêmea de Academia Campinense de Letras, Maria Cristina de Oliveira, disse que os textos do blog estão ficando mais reflexivos e filosóficos. A filosofia é-me disciplina estranha, por pouco contato que pude ter com ela em meus anos de formação, nos quais grassava a ditatura militar que nos ocultou quase todos os saberes das Humanidades, além dos corpos assassinados em porões. O pouco que passei a saber na época do colégio foi devido ao Orestes, militante revolucionário, que conseguia subverter a ordem e nos apresentar e ofertar os livros da coleção Primeiros Passos  ("O que é...") para leitura. Reflexão, sim, creio que é uma constante na lavra do escritor, uma vez que é de si que ele fala ao mundo, mesmo quando é ficção - tanto o eu quanto o mundo retratado. Se há pouco mundo interno ou externo nesse retrato, tornará o escrito retraído, não retratado. A Maria Cristina esbanja gentileza nos comentários, tanto quanto esbanja talento em seus escritos, a começar pelo pr...

Semana pós-ambiental

A semana inicial de junho desperta os instintos mais primitivos ao completar mais uma voltinha ao redor do sol e comer bolo recheado de abacaxi. A trajetória é inevitável, o conforto da viagem é que pode ser trabalhado. Não há lugar reservado na janelinha, nem no corredor com mais espaço para esticar as pernas, apenas um seguro voo de um planeta pelo espaço. Mas, pelos acontecimentos recentes, foi grande a tentação de escrever apocalipse no título, em vez de semana. Ao que tudo indica, apesar de haver dia para comemorá-lo (junto com o aniversário), o meio ambiente continuará a ser pela metade, não por inteiro. Longe de ser uma anedota pronta, chinfrim, é questão de sobrevivência geral e irrestrita. Não poderia deixar de registrar a indignação com a passagem da boiada da devastação no Senado Federal em função da aprovação do indevido projeto de lei que "flexibiliza" a fiscalização ambiental. A publicação é tardia, porém necessária. Também na mesma semana, o folclore local gero...

Retratos em branco e preto

Foi-se Sebastião Salgado e sua doce e amarga interpretação da realidade. Basta o artista morrer para aflorar a lembrança de sua obra. Triste, mas real. Parece que nos retraímos ao referenciar os intérpretes do mundo quando ainda vivem. Precisamos reverter tal tendência, pois, por mais inexorável e abundante que a morte seja, há tempo para viver. E são muitas as vidas vividas e vívidas que tornam símbolos, como foi a de nosso cosmopolita fotógrafo brasileiro. Nas redes sociais pipocam anônimos ao lado de Sebastião Salgado, provando que lá estiveram e um átimo de tempo puderam com ele compartilhar. Não tenho fotos com ele, nunca me aproximei, mas tenho as fotos dele em belos livros e intensas memórias. Das minhas anotações - em cadernos, rascunhos e arquivos digitais - constato que fui admirador totalmente passivo de sua obra, uma vez que não encontrei sequer uma linha de comentário a algum lançamento ou reportagem. Essa ausência de palavras não joga nenhuma luz sobre a importância dele ...

Tempo de amor

Sou viajante do tempo, revelo a todos neste testamento, uma vez que descobriram essa minha faculdade pelas verdadeiras redes sociais nas quais mostro as imagens das viagens. Viajo todos os dias em direção ao futuro, afastando-me do passado. Pressinto aquele sem esquecer deste. Por vezes, inúmeras vezes, confesso que faço longas viagens ao passado, quando leio os clássicos da literatura ou assisto a excelentes filmes. Antecipar as viagens ao futuro eu também pratico, com os livros de ficção científica - que também são boa literatura-, mas, nesse caso, a garantia de legitimidade é menor. Bem, quem leu Júlio Verne, de mais de um século e meio atrás, fez viagens garantidas ao futuro, sabendo o sucesso da empreitada apenas depois, bem depois. Já com Isaac Asimov, nos anos 1950-1980, a viagem ainda está por ser certificada. Creio que, em breve, Asimov será mais um futurista concretizado, como o fora Verne. Todos esses escritores ficcionais viveram proximamente à ciência para garantir a veros...

Fusca azul

Na correria de juntar os documentos de meu falecido pai, esquecidos em antigas caixas de camisa feitas de papel, apareceu uma tirinha verde e amarelada, lembrando o título de eleitor de antigamente. Não era. Era o documento de propriedade do fusca vermelho que ele teve décadas atrás. Certificado de registro e licenciamento de veículo é o nome correto e não havia versão digital como hoje. Aliás, sem o celular em mãos, não é mais possível se identificar ou comprovar quem somos e por onde vamos. Já somos um código binário impresso em nossos telefones. Conheci bem aquele carrinho, pois foi nele que aprendi a dirigir pouco depois de fazer 18 anos. Não tive muito interesse em seguir adiante com a habilidade e somente perto dos 30 anos é que usei o aprendizado para tirar a carteira de motorista (ou carta, como dizem muitos motoristas aqui em Campinas, mesmo não trabalhando nos correios e não remetendo o documento a ninguém). Ainda acreditava que a bicicleta era o melhor transporte para curtas...

A mãe dos fatos

Eis a sequência selecionada de efemérides no pós-feriado: 4 de maio é o dia Star Wars, coisa dos amantes da saga ( May, the fourth ); dia 5 é o da Língua Portuguesa; e o 6 é dia da Matemática. Somente aqui temos uma tríade de peso semanal e seminal. O de nossa língua foi instituído pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e o da matemática é homenagem ao nascimento de Malba Tahan, nosso escritor Júlio César de Mello e Souza, que viveu a infância em Queluz, no Vale do Paraíba. Os acontecimentos diários são a origem de lembranças para os próprios fatos e suas consequências e circunstâncias. Se vivemos, acontecemos. Deixaria tais efemérides óbvias de lado, pois o mundo católico escolheu um novo Papa por estes dias, de olho na cor dos produtos de combustão que saíam das chaminés do Vaticano. Na sucessão de Bento XVI eu até me candidatei, com carta publicada e cheio de intenções. Desta vez, na sucessão de Francisco, abri mão. Pelo jeito, conseguiram escolher uma fera para a posição....

Trabalho científico e cultural

Nos tempos de Lorena, o Primeiro de Maio era invariavelmente passado nos Estados Unidos participando de congresso científico anual na área de biocombustíveis. Outros tempos, mesmos interesses. Naquele país não é feriado, o que foi surpresa no início das participações, acreditando tratar-se de uma comemoração mundial, tal como é o Natal. De presente, apenas nossa presença nas três sessões diárias - manhã, tarde e noite - em que o evento era organizado. O grupo de brasileiros sempre foi significativo, e alguns alunos meus de doutorado tiveram seus resultados lá divulgados, aproveitando oportunidades para desenvolver estágios em outros laboratórios. A internacionalização da ciência serve para isso também. Os encontros científicos de hoje foram reduzidos no tempo, mas não na importância. Vinte anos atrás, o estabelecimento de combustíveis advindos de fontes renováveis era questão primordial na pesquisa científica para o combate ao aquecimento global e mudanças climáticas, com o protagonism...

Português de leituras

O cientista viaja quando a participação em congressos internacionais assim o permite. Estive no Algarve de Portugal, cidade de Albufeira, em que os polímeros foram o tema principal do encontro. O projeto financiado pela Fapesp voltado à biorrefinaria de frutas financiou a viagem. Pagar tudo em euros, incluindo uma simples passagem em ônibus urbano, é desagradável ao bolso quando se converte o valor para nossa suada moeda. Recomenda-se ao viajante não fazer esse martírio, mas acaba por ser inevitável. A água fria que banha a cidade convidou para uma molhada no pé, nada mais. O tempo foi curto. As crianças na praia se divertiam em mergulhos congelantes, talvez porque o gene nórdico do termostato regula-se pela latitude, não pela idade, nem pela atitude. Se não se nada, nada melhor que comer. O peixe servido conserva o sabor do mar e as energias gastas pelo pescador para tirá-lo de lá. Uma delícia de espadarte for servida no jantar da quinta, meio de feriado para brasileiros e creio que t...

Malhação do blog

Um dos textos mais bonitos de Euclydes da Cunha é Judas Asverus , que relata a malhação do boneco representando o traidor mais conhecido de norte a sul, de leste a oeste, de muçulmanos a católicos, passando por judeus e venerandos ateus. Não é à toa que o Judas é assim considerado e seu nome virou sinônimo do que é. Pude ler alguns trechos da crônica de Euclydes nas palestras que dei este ano sobre o autor de Os Sertões , ressaltando que estava apresentando outros textos dele, incluindo estudos sobre a Amazônia, a geopolítica mundial (de um século atrás e que se mantém grosso modo  até hoje) e a forma como a República havia sido plasmada de forma conturbada a partir de um Império já claudicante. A professora Anabelle Loivos Considera, da UFRJ, defende em seu grupo de estudos sobre Euclydes da Cunha que falta na formação de professores de literatura o estímulo à leitura. Assisti a uma leitura dela de Judas Asverus e foi arrepiante. Discutimos muito e lemos pouco nossos autores. E a...