Somos selvagens

O feriado prolongado passou e, mesmo ausente de manifestações e celebrações, houve o acompanhamento de acontecimentos ao toque do teclado. Algumas simbologias marcam, tal qual a escolha de mais um ministro branco para o STF, o incêndio na COP-30 - muito provavelmente os combustíveis queimados são de fonte fóssil - em momento em que se caminhava para o sucesso relativo desse tipo de evento, e a retirada de mais um pacote de taxas de importação de produtos brasileiros por parte do governo norte-americano. Parecem todos acontecimentos pretéritos. E são. Mas é no entendimento do passado que tentamos viver o presente. Ao menos alguma ciência adentrou a discussão política e mandatários entendem, um pouco tardiamente, que o aquecimento global e o aumento da incidência de eventos climáticos extremos levarão à morte muitos de nós. Países insulares poderão ser extintos, e outros com extenso litoral, como o Brasil, já vivenciam o avanço do mar e a destruição de construções à beira da praia. Mais uma vez, a selvageria climática se dá pela imposição econômica. O mundo muda, e mudo querem nos deixar.

Diferente de alguns times, o título do blog veio antes. O misto de acontecimentos contém tamanha confusão que não sei se sua causa é o remédio ou a mídia. Antes eram os jornais impressos que sobreviviam com as tintas fortes, sangue deles saía quando torcidos. Hoje, são os coletores de cliques pela internet afora que soltam todo tipo de alarmismo que faz com que os alertas sérios sejam colocados na mesma panela de cozidos. Não por menos, uma expressão que significa estimular o interesse e o engajamento nas redes sociais por meio de discurso de ódio é a eleita como uma das representativas do ano. E nem de futebol precisa ser para criar essa vã discussão. Basta uma cor diferente da roupa de um famoso, ou se a rinoplastia feita foi adequada, ou ainda se o dinheiro gasto para fotografar pinguins na Antártida deveria ser convertido para levar alimentos à Etiópia. O ingrediente da má intenção completa o caldo quente e a selvageria aumenta exponencialmente, ainda mais que um novo período eleitoral está em curso. Sim, somos devotos aos votos.

Somos selvagens e ainda vivemos com ares de civilização. Se alguma justiça tem acontecido em nosso país, chegando a altas esferas e estrelas do poder e da mídia, é preocupante a quantidade de duras guerras em curso. As mais evidentes, da Ucrânia ao Oriente Médio, escondem outras, travadas diariamente pelos trabalhadores do mundo que batalham seu lugar para amealhar um mínimo de sobrevivência. Mais que milhões, são bilhões de seres humanos vivendo em condições longe do rótulo "humano". Sim, há esperança pela força da verdade científica que pode trazer um pouco mais de equilíbrio em nosso planeta, sem ignorar a força da mentira negacionista que é mais nefasta do que piadas sobre terra plana ou idade do mundo. Também preocupa o quanto envelhecemos nos últimos anos, parecendo que vivemos mais. Será? Assim, podemos resumir que as pessoas entre 70 e 80 anos estão comemorando meio século de carreira, estão morrendo, estão conduzindo os destinos da nação ou estão presas. Encaixem seus idosos nesses conjuntos.

Comentários

  1. Muito oportuna a reflexão. Rio 92, COP30... e pouco foi feito para diminuir aquecimento global. Numa medição feita antes do tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Rio Grande do Sul, a água do oceano estava em 29º, ou seja, água do mar mais quente fornece mais energia para a atmosfera, intensificando fenômenos meteorológicos. Fatos comprovados. Estes extremos ainda levarão à morte muitos de nós.

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  2. Três parágrafos que nos levam a refletir bem, pois tratam de assuntos sérios, reais, preocupantes... Será que esse mundo tem jeito? Sempre ouvi meu velho e sábio pai dizer: " o mundo é bom, quem o estraga é o ser humano." Creio que nestas palavras se encerra uma grande e triste verdade.
    Maria Felim

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