Coloridos e desbotados

Dezembro já vai em curso, o mês mais curto do ano. Todos querem resolver em 31 dias aquilo que não concluíram ao longo do ano. Na verdade são 20, 22 dias; depois disso resta apenas o Natal e as bem aventuranças escondidas em algum remoto canto que se revelam em sorrisos amarelos, decorações vermelhas, outros coloridos alimentares, e, ao que tudo indica, uma imprensa continuamente marrom. O mês que parecia frio quanto às notícias políticas, acabou por se aquecer com movimentações entre os poderes. O indicado ao STF ganhou tempo para se articular, o Senado não gosta das decisões do STF, a economia vai muito bem, e o Parlamento continua atuando contra o Executivo. Já alertaram para desvincular o blog da política, como se fosse possível pensar a consciência sem um corpo. Fato é que não gosto de dezembro que carrega o único consolo de anteceder o janeiro de férias. A publicação em sexta-feira faz voltar a periodicidade do blog, véspera do aniversário de minha professora Sandra Franchetti. Respeito e a cito por ser a responsável por eu me apaixonar pela mais bela das ciências, a Química. Além de irritações, amores precisam ser cultivados. Também comentam a frequência das publicações, mas a proximidade entre as edições recentes do blog é fictícia, pois o maior espaçamento havido nos meses anteriores é que revela a realidade: atrasos. E não é somente dezembro o culpado.

Independente do significado social, político, religioso ou cultual, cores são o que nossos olhos veem. Ou melhor, o que a retina registra e envia ao cérebro. Nunca saberemos se a sensação de cada um de nós com as cores é a mesma. Um vermelho vivo é complementar ao verde natureza, e um azul celeste também forma esse conjunto com um amarelo traição. (Ainda não consigo usar as cores da bandeira na roupa). No conjunto luminoso, pouco importa esses considerações porque somos quase cegos frente à extensão de luzes que existem, mesmo que nos arvoremos de visionários do mundo. Cada cor é definida por um comprimento de onda, que para a região do visível varia entre 400 e 800 nanômetros, para arredondar os números e dar aquela pitada de ciência que me é tão cara e às vezes rara por aí. Nano é prefixo que significa um bilionésimo. As outras radiações, mesmo as não luminosas, são medidas pela mesma régua e teremos outras regiões, chamadas espectrais, todas invisíveis: infravermelho, ultravioleta, micro-ondas, raios-X, ondas de rádio, e um longo etc. Dizem que animais enxergam bem no infravermelho, por isso sua visão noturna é aguçada. Nossa limitação para esse mundo embaçado nos fez desenvolver equipamentos que leem nessas regiões espectrais, com as quais conseguimos entender um pouco mais da natureza da matéria e da energia.

A cor que os olhos não gostam de ver é a da tristeza por tantas mulheres que são mortas por homens. Os dados são alarmantes que não são explicados somente pela violência; caso contrário, haveria também um grande número de mulheres que matam homens. Também não seria justo dizer que é parte de nossa natureza sermos violentos com elas. Não, é algo criado culturalmente, uma mistura de misoginia, patriarcado, machismo, covardia e má educação que tem levado à explosão do feminicídio. Se essa mulher carregar na pele a marca da diáspora africana, de três séculos de escravidão e mais de 150 anos de exclusão, a situação é piorada. Houve recentemente uma marcha de mulheres negras. Deveria haver uma marcha de homens denunciando a matança que nós mesmos praticamos, estimulamos ou, indiretamente, incentivamos pela omissão. Precisamos deixar de carregar o silêncio dos culpados.

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