O blog ainda está aqui

As férias começam, mas o blog insiste em ser capitalista passivo, ou seja, trabalha para que outros enriqueçam. É uma metáfora, pois não monetizei este espaço, como fazem por aí. Tornou-se uma forma de despassivar um pouco o proletário de palavras e imagens com o incômodo de fazer pipocar nas páginas aqueles anúncios que mais irritam do que propagandeiam algum produto ou serviço. Aqui no blog, se as reflexões e devaneios servem para que outros também reflitam, muito bem, a mais-valia terá valido a pena. Férias podem ser para descanso, imprescindível, mas a mente nunca para e até a escolha da praia é fruto de sinapses. Guarujá, com seu surto acima da média de contaminação viral ou bacteriana - ainda não se sabe ao certo - foi opção descartada, e a viagem é esticada um pouco mais, até o Litoral Norte paulista, reencontrando as praias de outrora, quando morava em Lorena. A decida pela serra é marcada pela sinuosidade que sempre seguiu o caminho dos ventos, desde os primeiros povos que aqui habitaram, seguidos pelos exploradores que abandonaram o litoral e se embrenharam pelo chamado interior. A estrada foi incrementada com alguns túneis e, por óbvio, pedágios.

Férias também são leituras e cinema. Seria eu um patriota por ter chorado no filme Ainda estou aqui? O título de cidadania foi vilipendiado por aqueles que tentaram um golpe de estado ou estiveram a serviço dos mentores do crime; é melhor evitar. Lembremos o dia da quarta-feira desta semana em que, dois anos atrás, ocorreram patriotadas conduzidas por patriotários, termo e neologismo devidamente aplicados aos criminosos de tempos correntes, que destruíram fisicamente os Três Poderes e tentaram subvertê-los, simbolicamente. Então fui apenas humano e ciente da história pátria por ter chorado no filme. No mesmo dia, Elvis Presley completaria 90 anos e aproveitei a decretação da terra com lei única, unilateralmente dada pelo montanha de açúcar, para postar uma imagem do rei do rock idoso, tocando um violão e dizendo que ele está preparando um novo álbum. A postagem, falsa, obteve um quarto das interações das obtidas com a foto do ingresso para ver o filme, mostrando que a censura ainda está aí disfarçada de livre opinião (ou livre opressão por quem pode) e que o algoritmo que seleciona aquilo que o usuário vê é direcionado para evitar as críticas aos donos da rede.

Ainda Estou Aqui é o filme do momento, uma memória que precisa ser revivida, contada pela saga de uma família, ou melhor, de uma mãe e esposa que teve de se reconstruir depois do que a ditadura militar destruiu. Fernanda Torres bateu fortes concorrentes e foi a vencedora na categoria melhor atriz dramática no Globo de Ouro, ao interpretar Eunice Paiva, a viúva do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pelos militares, cujo corpo continua desaparecido, mas seus assassinos continuam livres, leves e a soldo do Estado brasileiro que todos nós pagamos. O Globo de Ouro conquistado por Fernanda foi um fato inédito, um feito que congregou a todos nós. Ao menos as pessoas com um mínimo de dignidade e de conhecimento artístico e histórico de nosso país. Estou usando a repercussão ao prêmio como parâmetro para separar gente de bem de gente de bens (entenda-se males). O filme não levou o prêmio na categoria de produção em língua diferente do inglês, a disputa era acirrada, e venceu a película falada em espanhol Emilia Pérez.

Comentários

  1. Perfeito. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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  2. Patriotários total! Semana passada vi no viaduto Tutóia uns 6 ou 7 patriotários tremelucando bandeiras para os milhares de carro passando. Lembro que em 2017 eu via isso e desdenhava, esses caras não vão a lugar nenhum. E olha só o que deu. E olha só eles de novo lá. Será o benedito que vai começar tudo de novo? Ou não terminou ainda? Quanto à Fernanda Torres, só vendo o filme pra dizer se foi merecido. Nas fotos, ela está sempre com uma cara de sofredora, olhando para o horizonte meio perdida, sei lá... Central do Brasil, quando assisti, me decepcionou total! Me pareceu super-piegas e super-simplório. Li o livro do Marcelo Paiva há muito tempo, a história é de luta e de muito garra da Eunice. Quanto à atuação da Fernanda, se ganhou o Globo de Ouro, deve ser muito boa, mas me reservo o direito de julgar após ver, que indústria cultural precisa sempre de pé atrás... Valeu!

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  3. Férias combinam com leitura. Estou relendo Cem Anos de Solidão para assistir à primeira temporada da adaptação (antes considerada impossível) que a Netflix lançou. Aguardando também a avaliação do nosso blogueiro preferido. (PSViana)

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