O tempo de James Joyce

Mais um centenário está em curso. A primeira edição de Ulisses, de James Joyce coincidiu com o aniversário de 40 anos do escritor em 2 de fevereiro de 1922. A semana de arte moderna estava sendo aqui planejada e um dos romances clássicos da literatura estava sendo fornecido ao público na forma de livro. Tal qual inúmeros outros autores, a obra já havia sido publicada fragmentada como folhetim ao longo de dois anos, com os devidos elogios e críticas. E escândalos. Aqui já confessei minha tentativa infrutífera de enfrentar Ulisses. Voltei a ele por esses dias, apenas para acariciarmo-nos mutuamente, pois ainda continuo na deglutição e digestão de "Em busca do tempo perdido". O primeiro volume já vai a termo, mas faltam os outros seis para completar esse também ícone do romance moderno. Meu Lima Barreto não ficará de fora dessas considerações porque leio na biografia de Joyce que ele teve problemas na escola Berlitz, que é o nome do método de aprendizado de línguas muito difundido mundialmente, incluindo o Brasil. O método Berlitz foi o assunto e título da crônica inédita de Lima Barreto que descobri alguns anos atrás e que faz parte do meu projeto, em colaboração, de compilação da centena de textos ainda desconhecidos pelo público, uma vez que assinados sob pseudônimo.

Por alguma disfunção neurológica, cheguei um dia a associar James Joyce a Jesse James. Um dos nomes é idêntico, estaria explicado. Mas a memória que me resta é a de alguém duro e implacável para ambos os personagens. Talvez seja isso, um impondo sua arma, o outro, sua alma. Bem, isso dito por um ateu de carteirinha, convicto e praticante, soará artificial. Mudemos para dizer que um foi eficaz em atirar balas lavradas, o outro, em atirar belas palavras. Porém, a curiosidade aciona o buscador computacional e fica-se sabendo que Jesse James, o famoso fora-da-lei e pistoleiro, morreu no mesmo ano em que James Joyce nasceu, apenas dois meses depois! A juntada dos dois - ou tropeço - ficou menor do que os seis graus de separação, ilustrado em postagem anterior quando discorri sobre Guilherme de Almeida (http://adilson3paragrafos.blogspot.com/2020/07/cientista-constitucional.html). Como refletiria o grande filósofo das iniquidades: sabe o que isso significa? Nada.

Hoje, 2/2/22, às 22 horas, 22 minutos e 22 segundos, o que você vai fazer? Ou fez? Além das efemérides e coincidências, construímos imaginários com números que nos cercam. Quer algo mais artificial do que a expressão numérica de uma data ou horário? A herança da base sexagesimal (60) vinda dos assírios, ao que tudo indica, parece ter se limitado à medida de tempo, aos ângulos e às quantidades em dúzias, já que para quase todo o resto usamos a base decimal (10). Sim, modernamente migramos para a binária (0 e 1) no mundo digital - que significa 'dois'-, mas isso não salta aos olhos no nosso cotidiano. Foram em apenas 24 dessas nossas horas derivadas de uma cultura milenar que se passa a história de Ulisses, que resultaram em quase uma dúzia de grosas de páginas. O convívio de várias bases numéricas causa confusão, especialmente quando alguém escreve 2,50 horas e tem de converter para 2 horas e 30 minutos, não 50 minutos. Zero à esquerda nada vale, dizem o ditado e a vivência oficial, mas à direita, com certeza vale, ao menos, para indicar a grandeza e a precisão de uma medida. Na ciência é diferente escrever 2,5 e 2,50, assunto para uma próxima oportunidade. #IniCiencias

Comentários

  1. Parece que o blogueiro divertidamente aderiu ao "fluxo do inconsciente" que Joyce tão bem utilizou no seu famoso (e para muitos difícil) romance. Juntar Jesse James e o irlandês foi um achado e tanto...

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  2. Muito interessante este passeio entre Jesse James e
    james Joyce.
    Às 22 horas e 22 minutos de 2/2/22, eu vou filosofar o que é um ateu praticante.😀

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